É, ando me afastando, é fato.
As vezes acordo mais cedo do que gostaria, são os pedidos insistentes dos meus Pets, foi o que aconteceu hoje, levantei, abri a porta, deixei que fizessem suas necessidades e voltei pra cama, consegui dormir mais uma horinha e isto foi bom.
Tenho feito coisas variadas, cozinhando, costurando... coisas que ocupam meu tempo e que me distraem.
Este final de semana consegui terminar um vestido, desses de ficar em casa, fiquei contente pois ficou do jeitinho que o projetei. Estou constatando o que já sabia, que a perfeição vem com a prática, se bem que falar em perfeição neste caso é uma heresia, mas digamos que estou me saindo melhor que a encomenda.
A costura de alguma maneira sempre esteve presente em minha vida.
Começa pelo fato de minha vó Felicidade ter sido uma costureira de mão cheia, melhor que muito alfaiate.
Quando minha vó faleceu eu tinha apenas sete anos de idade e a influência dela em minha vida ficou marcada pra sempre, são coisas que não conseguimos explicar, afinal foram apenas sete anos de convívio.
Lembro-me que era apaixonada por ela e pela máquina de costura e vivia ao seu redor, que por sua vez ficava feliz e orgulhosa em me ver por perto, tão curiosa e interessada no seu ofício.
Desde pequena que gosto de desenhar, digo sempre que nasci com o lápis na mão, e o fato de ver minha vó costurando associei o desenho à costura.
Meus desenhos eram bonequinhas de roupinhas variadas. Hoje percebo que pra minha pouca idade era bastante criativa e intuitiva.
Os desenhos eram separados da seguinte maneira, havia os vestidos, as roupas de frio, os biquínis, as princesas e as noivas, fazia as coleções mesmo sem ter ideia do que isto significava, dá para acreditar ?!
Eu as desenhava, pintava, recortava, dava-lhes um número e também um nome, sabia o nome de todas, e olha que eram mais de cem, todas devidamente guardadas numa caixa de sapato que pra desespero de minha mãe eram espalhadas todas as vezes que brincava de desfile ou inventando algum tipo de história para as minhas personagens, pois é ! falei muito sozinha com minhas bonecas, e gostava mais de brincar com elas do que com as bonecas de verdade.
Quando fiz treze anos, a meu pedido, minha mãe me matriculou no curso de corte e costura, foi ali que tive a noção correta de costurar. Meu vestido de formatura do Ginásio fui eu que desenhei assim como meu vestido de casamento que também foi criação minha. Na época era moda os vestidos chamados de bolo de noiva, muito volumosos com armações, saiotes engomados e mangas bufantes e eu fui radicalmente na contra mão, meu vestido era muito simples, cintura baixa, zero volume, literalmente lambido. Analisando as fotos percebo que meu vestido é atemporal, acho que minha intuição pra moda sempre foi boa.
Mais tarde fui estudar Belas Artes, na época que o prédio ficava onde é hoje a Pinacoteca do Estado de São Paulo, ali, do ladinho da rua São Caetano, mais conhecida como rua das Noivas, adivinha se não fui me arriscar a pedir emprego lá ? Com a maior cara de pau fui e consegui emprego de figurinista numa loja que acredito que exista até hoje, ficava numa esquina e se chamava "Castelinho".
Fiquei apenas um mês lá, um mês que me ensinou muitas coisas, principalmente a reconhecer minhas limitações.
Fiz inúmeros desenhos, atendi algumas noivas mas um detalhe me impediu de continuar ali, minha inabilidade em lidar com o público. Como posso me explicar melhor?!
Vamos começar pelo pré-conceito, não era nada comum naquela época mulheres figurinistas, aquele campo pertencia aos homens afeminados porque não dizer afetados, o profissional precisava ter uma grande dose de deslumbramento pra poder se envolver com a noiva, e se tem uma coisa que não tenho e nunca tive é essa disposição para os confetes e purpurinas, eu era muito direta e reta e isto não agradava ninguém, nem as noivas e muito menos a gerente da loja, ou seja, fui demitida.
Não fiquei triste porque soube reconhecer que também não me sentia à vontade, fiquei sim aliviada e com muita raiva de ter deixado muito dos meus desenhos na loja, deveria tê-los resgatados, mas eles alegaram que eu os fiz enquanto estava a serviço da loja, então deixei passar.
Desisti da ideia de ser figurinista e acabei caindo de pára-quedas na sala de aula ministrando aulas de artes por mais de trinta anos, coisas da vida e que jamais me arrependo.
As durezas da vida e a falta de grana para comprar roupas prontas me levou várias vezes de volta a máquina de costura. Era muito mais barato comprar o tecido e eu mesma costurar. Fiz isso em inúmeras ocasiões, principalmente para os meus filhos pequenos, lembro que até terninho de casamento com gravatinha borboleta eu fiz, e muito bem feito por sinal, minha dedicação era total.
Depois as coisas começaram a melhorar e fui me afastando da costura. Hoje retomo com prazer, tudo bem que falta um pouco mais de prática para o resultado final sair melhor, mas não ligo muito não, o importante é fazer por prazer, me distrair e principalmente me ocupar.
Então bora bora costurar !