sexta-feira, 13 de julho de 2018

"Caderninho preto"

Caderninho preto, na verdade era um caderno universitário encapado de preto com uma etiqueta grande identificando a série, a turma, o número da sala e o nome do professor coordenador responsável pela turma, ou seja, o coitado era o porta voz de seus colegas e de todas as ocorrências durante as aulas.

Todos os dias era a mesma coisa, lá estava aquela pilha enorme de caderninhos pretos prontos para cumprir sua função, cada professor pegava o seu de acordo com a sua primeira aula.

Segundo as regras da escola o caderno deveria permanecer na sala até a última aula quando então deveria ser retornado à sala dos professores para que seguramente voltasse a sua função no dia seguinte.

Claro que entre a troca de aula, para nossa segurança, um dos alunos, aquele nomeado como representante da sala, fazia a guarda do tal caderninho, caso isso não ocorresse com certeza não haveria caderninho que bastasse, todo dia se perderia um.

Como disse antes era um caderno universitário comum, no alto de cada folha o nome do aluno completo e seu número com letras legíveis e garrafais, os bons alunos recebiam uma única folha e os piores, bem, os piores no mínimo duas, alguns com direito a três ou até quatro folhas, isso se não fosse necessário ocupar as folhas excedentes no final do caderno, e não pensem que é exagero, pois isso de fato acontecia, toda sala tinha sempre um que fazia jus.

Todo ocorrência estranha deveria ser anotada no caderno com o objetivo de informar aos pais sobre o comportamento de seus filhos em sala de aula no dia da reunião de pais que acontecia todo final de bimestre.

Chamávamos de "o dia da vingança", cada professor pegava o seu caderninho preto antes de se dirigir ao abatedouro, digo à sua sala de coordenação.

Odiava esse dia, não nasci pra função de carrasca, por pior que fossem os pais e por mais difícil que fosse o aluno, era terrível pra mim ter que falar, ficava com dó dos pais e por incrível que pareça com dó dos monstrinhos.

A pauta da reunião sempre começava com amenidades, e enquanto obrigatoriamente passava os recados, percebia no rosto de cada pai o que cada um esperava ansiosamente: a carteirinha com as notas e um "o senhor está dispensado, seu filho é um excelente aluno, nada de anotações no caderninho preto".

Minhas observações particulares sobre o comportamento dos pais de um modo geral:

Pais de bons alunos são chatos idem a sua cria, ficam na sua frente querendo que você fale bem de seu filho para que todos ouçam; figura insistente.

Os pais dos piores e mais problemáticos dificilmente aparecem e quando aparecem normalmente mandam um representante, na maioria dos casos a inocente avó, que nunca sabe o que dizer ao não ser se comprometer a repassar as coisas terríveis que ouviu aos pais da criatura em questão.

Aí ficam aqueles que recheiam a reunião, os pais da grande maioria, aqueles que batem no peito pra dizer "meu filho nunca fez isso !" sim porque a culpa é sempre do filho do outro.

Acredite seus filhos podem ser uma coisa em casa e outra completamente diferente na escola, principalmente quando se juntam, tudo, tudo pode acontecer.

Mas para não traumatizar os pais temos que usar de muita psicologia para falar de seus pimpolhos, sempre tem um jeitinho meigo para dar más notícias, ou então basta ler o caderninho preto.

mãe :"Professora, fala da minha filha..."

professora : "Sua filha é linda, parece um vaso de flor, não faz nada, prefere o canto e enfeita a sala lindamente..."

Viu ?! olha o jeitinho ! (Perversa !!!) (Sarcástica!!!).

Aguardem tenho muitas histórias do "caderninho preto" algumas hilárias outras muito "trash"rsrsrsrss


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