terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

"Carta para Kitty"

Terça feira gorda de carnaval.

O dia é só uma referência e ele está apenas começando.

Poderia ser um dia alegre.

 E com certeza é pra muita gente.

Pra quem foi viajar e quer aproveitar ao máximo este restinho de sol que resolveu aparecer.

Pra quem está em casa curtindo os filmes e as séries debaixo do edredom sozinho ou muito bem acompanhado.

Pra quem está na expectativa de voltar aos bloquinhos neste último dia de folia.

Enfim pra tanta gente, menos pra mim.

Continuo me sentindo "a estranha", aquele cachorro que se perdeu na mudança.

Muitos pensamentos me atropelam, e todos tem a ver com a minha baixa auto estima.

Todas as pessoas são milhões de vezes melhores do que eu em todos os sentidos.

Eu me esforço mas não consigo me entender.

Queria ficar quieta, e eu fico quieta a maior parte do tempo.

Enfio a cabeça nos livros para esquecer um pouco da minha vida.

As histórias dos outros são muito mais comoventes e interessantes, quase todas mexem comigo, traduzem meus sentimentos, dizem exatamente o que gostaria de dizer, descrevem personagens que são tão parecidos com pessoas que conheço, com suas virtudes, seus defeitos, suas paixões.

Eu tenho tantos questionamentos profundos dentro de mim, alguns traumas de infância e da vida adulta que precisaria expurgar,mas não consigo, e só de lembrar me vem aquela vontade de chorar.

Queria tanto conversar com Theo.

Mas teria que ser o momento certo.

E qual o momento certo ?

O momento do meu equilíbrio, onde não tendesse para a euforia muito menos o fundo do poço.

Estes dois extremos deturpariam qualquer relato, qualquer fato, qualquer sentimento.

E não queria dizer coisas que por ventura mais tarde fosse me arrepender, ditas apenas pelo calor do momento.

Não. Não posso e não devo.

Por isso ainda não é o momento de falar com Theo.

Theo vai esperar mais um pouco.

Queria deixar aqui um trechinho de um livro que estou lendo.... talvez ele me alente :

...."Na cama, à noite, enquanto penso em meus muitos pecados e em meus defeitos exagerados, fico tão confusa com a quantidade de coisas que tenho que considerar que não sei se rio ou se choro, dependendo do meu humor. Depois durmo com a sensação estranha de que quero ser diferente do que quero ser, ou talvez de me comportar diferente do que sou ou do que quero ser"....

*carta para Kitty - sábado, 28 de novembro de 1942 - Anne Frank

Ando me sentindo infeliz e a última coisa que eu quero é sentir pena de mim.


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