segunda-feira, 2 de novembro de 2020

"Meus Mortos"

Finados - Dia dos Mortos, dia de lembrar das pessoas queridas que se foram, dia de homenagens e visitas aos cemitérios, dia de velas e flores e todos aqueles rapapés que deveriam ter sido feitos quando a pessoa tinha nome......

Meus Mortos.

                                            "....Minha vida

                                           Meus Mortos

                                                          Meus caminhos

                                                             Tortos

                                                   Meu Sangue

                                                                          Latino

                                            Minh'alma

                                                        Cativa....." 

                                               *Secos & Molhados

É estranho dizer que colecionamos mortos mas é verdade, em algum momento a nossa vida foi marcada pelo fim da vida de alguém, são elas, os nossos mortos e, cada um de nós tem sua coleção particular.

O meu primeiro contato com a morte foi aos sete anos quando perdi a minha avó paterna, dona Felicidade, cuja vida nunca fez jus ao nome.

Lembro que antigamente era comum as pessoas velarem os seus mortos no cômodo social da casa, então a sala de visita era esvaziada e onde antes ficava a mesinha de centro posicionava-se o caixão, cadeiras eram espalhadas rentes a parede e tudo era muito fúnebre, triste e marcante, lembro que foi a primeira e única vez que vi meu pai chorar, agora imagina quanto tempo pra uma criança de sete anos esquecer a cena, o cheiro da vela e das flores ?! Respondo : não há tempo, as lembranças em dias como o de hoje se reavivam, não tem jeito.

Como era difícil fazer os velórios em casa ! Acho que naquela época havia poucos velórios particulares o que forçava as pessoas a fazerem a cerimônia em casa mesmo, ainda bem que isto mudou.

O meu segundo contato com a morte foi aos dez anos, uma inquilina da minha vó materna grávida de oito meses morreu de eclampse e eu, meus irmãos e primos muito curiosos fomos xeretar no velório, ali vi uma coisa que nunca tinha visto antes, o coitado do marido pagou para um fotógrafo tirar várias fotos da morta, que coisa mais bizarra e mais funesta, guardar foto de morto como recordação, eu hein ?!

Outra morte que me marcou muito foi aos doze anos, um colega de escola que havia acabado de ganhar uma moto no seu aniversário, morreu num sábado à tarde vítima de um acidente em frente a escola, bem na hora da saída do turno, aquela cena foi terrível e ele foi a primeira pessoa jovem que vi morrer, pois pra mim morte era coisa de gente velha ou doente, enfim, lembro-me da pessoa e do fato até hoje.

Depois a coleção foi só aumentando ou seja, conforme envelhecemos vamos enterrando mais e mais gente, até que haverá um dia que a nossa finitude fará parte da vida de alguém.

C'est la Vie !

C'est la Mort !





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