sexta-feira, 21 de julho de 2017

"A Motivação que faltava"

Desculpa se me estendo com a história do cigarro, mas é preciso finalizá-la.
A primeira semana não foi a mais difícil, isso porque estava motivada e firme no meu propósito.
Conforme o tempo foi passando, resistir ao cigarro, foi ficando uma tarefa árdua quase impossível.
O maço continuava no mesmo lugar, passava por ele sem desespero, mas a minha cabeça buscava razões e motivos que me fizessem desistir, afinal aquilo tudo era uma grande bobagem e não haveria mal algum em acender um cigarrinho de vez em quando.
Me sentia com dois ursinhos panda sobre os meus ombros, um vestido de anjinho, o outro de diabo, cada um me falando ao pé do ouvido, tentando me convencer para qual lado deveria ceder.
A cabeça da gente é mesmo muito doida, melhor dizendo, a minha cabeça, por anos o cigarro fora meu amigo e companheiro, gostava de fumar, e embora o vício estivesse me prejudicando visivelmente, não conseguia encará-lo como "O grande vilão".
Era justamente o contrário, queria estar perto de quem fumava só pra sentir o cheiro gostoso do fósforo acendendo o cigarro na primeira tragada. Nossa! como aquilo era bom!
Outro fator decisivo era a comida, as pessoas que fumam não comem, porque o cigarro substitui o alimento, sei que não foi apenas o cigarro que me fez emagrecer, mas deixar de fumar naquele momento implicava em uns quilinhos extras, e voltar a engordar não estava nos meus planos.
Foi quando descobri que coincidentemente estava grávida do meu segundo filho.
Essa foi uma motivação importante, mas não a decisiva. Raciocinei que se tivesse mesmo que engordar que fosse pelo menos por uma boa causa.
Havia se passado um pouco mais de um mês, estava me sentindo orgulhosa em ter parado com o cigarro, quando em uma manifestação de professores na Praça da Sé, reencontrei o professor José, contei-lhe animada sobre a novidade, quando levei um banho de água fria, simplesmente sorriu e disse que um mês não significava nada, que era muito cedo fazer tal afirmação.
O professor José estava no meu mais alto conceito, admirava-o profundamente, por isso fiquei arrasada, afinal foi um mês inteiro de sacrifício, mas por outro lado estava ali um grande desafio.
Os anos se passaram, revi o professor José certa vez, estava dando a minha aula quando a diretora Claudete nos apresentou sem saber que já nos conhecíamos. Ele era o novo Supervisor de Ensino da nossa escola.
Nos abraçamos, foi uma conversa muito rápida, me elogiou dizendo ser uma excelente professora de arte, fiquei sem jeito; e assim nos despedimos.
 Não tive coragem de lhe dizer que há mais de vinte anos deixara o vício de fumar.
 Ele foi embora sem saber que foram suas palavras naquela manifestação, que se transformaram na motivação que faltava.
                                            "Obrigada professor José".






quarta-feira, 19 de julho de 2017

"Minha escolha"

Estava tão determinada e certa que conseguiria parar de fumar.
Aquelas palavras não saíam da minha cabeça "fazer uma escolha".
Também não poderia encarar o cigarro como meu inimigo, já havia tentado outras vezes, e todas foram frustrantes.
Comecei o meu dia evitando algumas rotinas que me levariam a acender um cigarro. Fui fazendo o meu serviço doméstico, tentando distrair meus pensamentos.
Olhava o relógio, fazia as contas de quantas horas haviam se passado desde a noite anterior.
Estava impaciente, era impossível me concentrar. Os olhos percorriam a casa mas voltavam sempre para o mesmo lugar.
Lá estava ele, inteiro, branquinho, sobre a mesa.Como resistir a tamanha tentação?
Como uma coisinha tão pequena e insignificante poderia ser maior que eu ?
Não podia e não seria.
Estava tão determinada e já haviam se passado tantas horas, fumar, seria um retrocesso, e era só o meu primeiro dia.
Que desespero!!! Não, você não pode imaginar, a menos que seja um viciado e tenha tentado largar o vício seja ele de que natureza for.
Segurava o cigarro com as duas mãos, levava-o ao nariz, respirava fundo, queria sentir o odor, aquele cheiro me enebriava, era muito bom tê-lo ao meu alcance, eu só não podia ascendê-lo.
E aquela ansiedade foi se estendendo, e o desespero tomando conta de mim, era minha escolha em querer parar se digladiando com a vontade irresistível de ascender aquele "bendito cigarro".
Por fim, não aguentei, entrara numa guerra interior sem volta, era ganhar ou perder, olhei firme para o cigarro que já se encontrava em minhas mãos, e numa atitude primitiva quase irracional, levei-o a boca e comecei a mastigá-lo.
Impossível comer um cigarro, apenas quem tentou como eu ou que foi obrigado pelos pais, como acontecia muitas vezes, é que sabe ao que estou me referindo. É muito ruim, intragável, literalmente, não dá pra digerir.
Chorei, tinha vencido a primeira batalha, mas não a guerra.
Aquele dia foi um marco em minha vida.
Me conscientizei que o cigarro iria fazer parte de mim e que fumar é mesmo muito bom, apenas fiz a minha escolha.
Aceita um cigarro?
Não obrigada, não fumo.





"Parar de Fumar"

Qual fumante não pensou em algum dia parar de fumar ? Acho que muito poucos. A maioria das pessoas tem consciência dos seus malefícios, e tem sim vontade de parar, mas resistir ao vício não é uma tarefa fácil.
Aprendi a fumar com quinze anos de idade, essa escolha foi minha,poderia ter parado nos primeiros sintomas de mal estar, contudo me deixei seduzir pelo cigarro, achava bonito fumar, acreditava também que fumando iria emagrecer, e ficar magra não era um simples desejo, já tinha virado obsessão.
O exagero de fumar um maço por dia, veio justamente quando os meus pais descobriram, e também no momento em que passei a sustentar o meu vício.
Gostava de fumar, puxar a primeira tragada, deixar a fumaça invadir o meu corpo,entrar nos meus pulmões, segurar um pouquinho e só depois soltá-la pela boca, muito lentamente, prazerosamente bem devagarinho... ver a fumaça se dissipando no ar, formando desenhos em curvas....
Você é fumante ou ex-fumante? Sentiu vontade de fumar? eu também...
Houve algumas tentativas de parar, principalmente aquelas de final de ano, me juntava ao grupo, fazíamos um pacto, não fumaríamos mais, e um daria a força necessária para o outro. Devo admitir que todo fumante tem suas artimanhas, e eu não fugia a regra, me determinava por um tempo, mas logo na primeira dificuldade fraquejava, tendo sempre a tal da recaída. Começava tudo de novo, quando a gente retorna, parece que o vício se acentua, vai ficando cada vez mais difícil nos livrarmos dele.
Até que deixei de me importar, não fazia mais pactos inúteis e fumava quando tinha vontade, era viciada em nicotina e assumida.
Quando engravidei do meu primeiro filho, o médico do pré-natal me alertou que seria prejudicial para a criança devido as possíveis complicações para a saúde do meu bebê.
Qual mãe colocaria em risco a saúde do seu filho? Era imprescindível que parasse de fumar.
Claro que tentei, mas o meu estado emocional não colaborou nenhum pouco, estava sensível com a gravidez, tudo era novo, os sintomas, os enjoos, a ansiedade, aliado a isso o fato de meu marido ser também fumante e não abrir mão do cigarro.
Estava tão transtornada com a ausência da nicotina no meu organismo, que fui aconselhada pelo próprio médico a não parar, apenas diminuir.
Era exatamente o que queria ouvir.
Fumei antes, durante e depois do nascimento do meu filho Renato.
A consciência pesou muito, mas o maldito vício foi maior que tudo.
Fumava incansavelmente, até que o cigarro começou a me incomodar, quando chegava a noite, um pouco antes de dormir, me sentia enjoada, olhava para os dedos que seguravam o cigarro e os via defeituosos e amarelados, sentia como se a nicotina estivesse entupindo minhas veias.
Mas no dia seguinte tudo se repetia. Todos os rituais que inconscientemente associamos ao vício.
Até que certa noite, assistindo ao programa "Comando da Madrugada", o repórter Goulart de Andrade, exibiu uma matéria sobre dependência química, e a luta de algumas pessoas para se livrarem do vício, eram pacientes internados, que lutavam para se restabelecerem e voltarem "limpos" para suas vidas.
Aquela reportagem mexeu comigo, não parava de pensar, particularmente em um dos depoimentos.
O rapaz dizia que fora viciado em cocaína, que havia algum tempo não fazia uso da substância, e que fizera uma escolha,mesmo sabendo que jamais se livraria da dependência. Ele escolheu não fazer uso da droga.
Eureca!!!!! era isso!!!! uma "Escolha"!!!!
Fiz as primeiras associações, se ele deixou a cocaína, qual a dificuldade em deixar a nicotina?
Não podia ter ódio do cigarro, afinal fumar sempre foi bom,também não podia exigir que ninguém parasse de fumar só porque estava ao meu lado.
Era uma escolha a "minha escolha".
Acordei muito determinada, não jogaria o maço no lixo, não dessa vez. O cigarro não era meu inimigo, e não iria repetir o velho gesto do"pacto do réveillon" que nunca deu certo.
O maço estaria próximo e o cigarro sobre a mesa.
.....Continua....