De frente pra tela branca do computador com as mãos no teclado, respiro fundo e penso no que vou escrever, se ficar pensando muito acabo não encontrando as palavras certas para descrever o que se passa e o que sinto.
É difícil me expressar com exatidão porque os meus sentimentos mudam como numa montanha russa, não se pode deixar levar pelo estado de espírito. A impetuosidade dos sentimentos nos confunde.
Por isso acho que tenho que estar serena todas as vezes que for escrever e isso nem sempre acontece.
Acho mais fácil relatar os fatos e depois discutir ou me questionar porque agimos dessa ou daquela maneira, vou repetir mais uma vez, na minha cabeça tudo tem um propósito tudo tem um por quê, mesmo que seja involuntário ou inconsciente.
Minha vida em comum não vai mudar, estamos acomodados na nossa rotina e não há perspectivas para mudanças, não nos sentimos motivados para tal.
E a nossa rotina não é legal, somos infelizes, estamos a maior parte do tempo introspectivos, mergulhados nos nossos afazeres e quando paramos pra estarmos juntos sempre gera uma cobrança uma insatisfação uma discordância, mesmo assim nos apoiamos um no outro porque necessitamos um do outro, até mesmo para discordar.
Não faz muito tempo escrevi um texto com o título "Alguém Especial" e li esse texto em voz alta para o meu filho afim de lhe pedir uma opinião, dizer o que achava. Ele ouviu atentamente e concluiu que tudo o que havia escrito não era outra pessoa a não ser eu mesma que acabara de me descrever e que por mais que quisesse, não só apenas eu mas qualquer pessoa na vida, jamais encontraria alguém tão perfeito dentro dos nossos moldes tão idealizados. Fiquei pensando e realmente concordei com ele. Depois lhe mostrei outro texto seguindo a mesma linha de pensamento que se intitulava "Alguém Real" e novamente confabulamos, descrevi aos meus olhos a pessoa que eu tenho e que divide comigo o dia a dia, novamente ele me chamou a atenção dizendo que aquele relato era a minha perspectiva e sugeriu que eu fizesse um terceiro texto falando sobre "o que trago de expectativa para o outro" ou como o outro me vê, ou o que sou de fato para o outro, daí fiquei analisando esta possibilidade e creia até hoje não consegui pensar nem me situar dentro desta proposta. Acho que tenho medo de fazer essa auto análise porque devo me julgar muito ruim ou melhor dizendo, a expectativa com relação a minha pessoa deve mesmo ser muito pior.
Quando afirmo que minha (nossa) vida não vai mudar é fato e não é falta de querer, porque se fosse simples escolher eu escolheria ser feliz, óbvio !
Há dias, como ontem, que me sinto muito responsável pela infelicidade do outro, justamente porque não consigo corresponder. Já tem um tempo que me dou o direito de não mais me enganar nem de fazer as coisas que não quero fazer, por isso eu digo "não". Não quero, não vou, ninguém vai me obrigar, mas... tem sempre o mas, me julgo falha na obrigação de esposa, não estou sendo uma boa companheira estou muito aquém das expectativas, daí eu me cobro e ao mesmo tempo digo pra mim mesma que não vou me violentar fazendo algo contra a minha vontade.
Não sabem como tudo isso me entristece.
Penso que se ele saísse ou se interessasse por outra pessoa, mesmo que não fosse um relacionamento amoroso e sim de amizade, seria bom pra ele, mas seria bom pra mim?! pois é ! eis aí o "X" da questão por uma série de fatores.
Existe alguém que o procura e tenta manter contato mas ele não dá importância, não se interessa por ninguém, também não posso insistir para que o faça, já tentei certa vez e me senti muito mal com o discurso da recusa.
Recentemente percebi que houve um tímido contato entre eles e me surpreendi.
Não sei como me sentiria em vê-lo animado e feliz saindo para um encontro.
Acho que me sentiria amaçada de "enes" maneiras, não é fácil mas vou tentar me explicar.
Já vi na vida, já li em livos, já assisti em filmes, quando um casal rompe o relacionamento, no começo é sofrido e muito difícil para os dois, mas com o tempo as coisas vão se assentando e novos relacionamentos vão surgindo, isso é consequência natural, mas não é uma regra, existe as exceções.
Acredito que para os homens tudo seja mais fácil, mas ele está à quilômetros de ser como a grande maioria. Mesmo assim se acontecesse dele ficar com alguém o que iria me doer seria vê-lo fazendo coisas com outra pessoa que nunca, jamais em tempo algum foram feitas comigo. Isso não é amor nem ciúmes, isso é egoísmo puro, insegurança ou sei lá que espécie de sentimento que me assola.
O que passa pela minha cabeça que ele tem muito mais chances de ser feliz do que eu.
Me vejo frustrada e amargurada, sem ter alguém que me ame de verdade, e eu preciso ser amada, preciso ser aceita do jeito que sou, eu preciso amar e ser correspondida, essa é minha condição pra ser feliz, e não vejo essa perspectiva, não há pessoa no mundo que vá se interessar por mim, não na minha condição a essa altura da vida.
Só que não estou conseguindo mais arrastar essa corrente, eu preciso dar a oportunidade dele ser feliz.
Quanto a mim eu não sei... haverá coisas para fazer, ou não...