quinta-feira, 9 de maio de 2019

" Quatro poemas - obra em versos"

Poema 1. O Amor


Se é na alma que a ferida não cicatriza
Lateja dor, de amor disfarçada
Goteja álcool, de sangue embriagada
É dela e não dos olhos a lágrima que não cristaliza.

Se é na boca que borbulha a saliva envenenada
Derrama fel que de amor enlouquece
Deixando-te assim como quem enfraquece
É dela e não das mãos a fala desatinada.

E se, por fim, no corpo sentes um tremor como se fosse derradeiro
Sem distinguir, entretanto se é falso ou verdadeiro
Tiveste, então, o amor desvendado.

Mas se das sensações te afastas como um navio do caís inatingível
E vê-se triste por tê-lo impossível
Então em ti já está disseminado.



autor : e.r.g.   2012




Poema 2. Deixa as Notas pra Lá


Ontem etilizado quis compor um tango
Que não fosse argentino e não lembrasse dor ou abandono
O primeiro verso veio repentino
- Ai Pá ! era hora de pegares no sono ?
Não era tango era fado
Não era tango era fado
Contente entornei mais uma taça de vinho
Dedilhando com prazer meu velho pinho
- Nega, cadê meu jornal ?
Não era fado, não era fado, era enredo de carnaval
Tudo vira cinza quando o fogo apaga
Tudo vira cinza quando o fogo acaba
Acordei ardendo em brasa
Descobrindo que não comprei o jornal
Não tinha uma Nega em casa
Nem meu pinho quebrado poderia dar qualquer nota casual
Qualquer nota casual.


autor : e.r.g.   2018




Poema 3. Covardia


Estou incurso na noite
como se fosse espelho de todas as dores,
prenhe de sombras e
nostálgicas cicatrizes que se rescussitam.
Sou como moinho de vento
que se move em vão,
como um pedaço de vento
que sopra em vão
Sinto os tropéis dos cavalos selvagens
que galopam os prados esparsos
espalhados pelo meu corpo.
E é na solidão de todos os gestos que deixo
entre  a noite e o dia, na frieza do chão,
mais um poema que te dizia adeus.


autor : e.r.g.   1989



Poema 4. De Tanto Amar


De tanto amar,
fui rio e fui mar.

Fui o lado do poço
e a troça do olhar.

De tanto amar
e amar tanto meu tanto amar,
fui o limo da pedra
e a pedra de afiar.

Fui o fio da navalha,
que mesmo afiado
o fio do destino não conseguiu cortar.

De tanto amar,
estive perdido em ti
feito as algas marinhas,
as ervas daninhas, de um rio ou de um mar.

No entanto, estivestes plácida feito a lua
que toda nua só faz iluminar.


autor : e.r.g.   1988

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