Há seis anos ela descansou de tanto que se exauriu, foram longos anos de luta contra um câncer de mama.
Fui visitá-la em junho quando seu estado de saúde se agravou.
Encontrei-a pálida quase sem cor, usava um gorrinho de lã, muito magra e com sorriso no rosto, tamanha a felicidade em nos ver.
Estava tão debilitada que não havia a necessidade de fazer o sacrifício em nos buscar no aeroporto da cidade de Dourados - MS visto que a casa onde moravam ficava distante e o carro velho toda vez que passava por um buraco na estrada de terra lhe causava visível incômodo, percebido nas suas feições que se contorciam de dor sem dizer um único "ai", só depois foi nos explicado que o fato dela estar ali não era apenas consideração por mim ou por minha mãe, sua irmã, o que ela sentia era muito medo de estar só.
Ficamos hospedados em sua casa durante uma semana e de tudo o que vi e presenciei o que me vem na cabeça é um trecho da música dos Titãs "...o pulso ainda pulsa..." Como pode um corpo sofrer tanto ? Como pode um corpo aguentar tanta dor ? ... e o pulso ainda pulsa...
Esta doença é perversa e desumana, nos reduz a nada, nos humilha, esfrega nossa cara no chão junto com nosso ego e todo o nosso orgulho... e o pulso ainda pulsa...
Eu não sei explicar em palavras o que aprendi aquela semana em Dourados, sei que foram inúmeras lições.
Com todo aquele sofrimento ela ria e nos contava histórias, mesmo sem conseguir comer nos acompanhava á mesa, foram longas conversas amenas e jamais conversamos sobre a gravidade daquele momento, porque o pulso ainda pulsava...
Houve um dia em que ela me contou que a angústia lhe batia ao entardecer, quando o sol lentamente se escondia nas planícies, angústia e medo de morrer, acho que era isto o que queria dizer, mas nunca confessou abertamente porque desviávamos todo e qualquer assunto ao que se referisse a morte.
Na hora de ir embora enquanto o Táxi nos aguardava pude me despedir dela com um longo e forte abraço, seus olhos marejaram, se encheram de lágrimas e ela me pediu que cuidasse de minha mãe porque sabia que sua morte lhe causaria grande sofrimento e eu só consegui lhe responder que não se preocupasse que minha mãe era uma pessoa muito forte, subtendendo que ela aguentaria o tranco.
Penso que fui tão inábil e tão insensível naquele momento, não era nada daquilo que eu queria dizer, quis sim me fazer de forte, mas na verdade estava desabando por dentro e não queria deixar transparecer.
Ela estava muito mal e eu presenciei aquela semana... e passou junho... e o pulso ainda pulsava... passou julho inteiro com seus intermináveis 31 dias... e o pulso ainda pulsava... e veio agosto inteiro, dia após dia e de tão cansada ela finalmente conseguiu morrer dia 31 de agosto de 2014.... o pulso por fim parou de pulsar...
*choro por sua dor...choro por sua ausência... pulso...
Te agradeço demais, todo o amor que dedicou à minha mãe. Ela realmente foi uma brava guerreira e me atrevo a dizer que o pulso ainda pulsa, só que agora em outros corações. Amo vc minha prima!
ResponderExcluirEla foi um exemplo de mulher guerreira e forte, jamais chegarei aos seus pés.
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