sábado, 30 de novembro de 2019

"Senta que lá vem história..."

A aula de canto da segunda feira foi reposta ontem quarta feira por motivos técnicos...(até aí choveu lhufas...).

Só estou contando isto porque uma história leva a outra que leva a outra e leva a outra....

Durante as aulas de canto, entre a teoria e a prática, selecionamos algumas músicas para treinar a minha voz,  e nas nossas conversas ficou claro que eu e o maestro temos gostos musicais muito parecidos, com certeza influência da época em que vivemos, até aí continua chovendo lhufas, mas calma ! Vamos puxar o fio desta meada.....

Há alguns meses fui desafiada a cantar "Travessia de Milton Nascimento" e mesmo consciente das minhas limitações resolvi encarar o desafio.... e de verdade não ficou bom, até que ontem relembrando e analisando meu suave progresso fui desafiada novamente a retomar a canção do Milton.... não sei por que mas o maestro acredita no meu potencial e para corresponder às expectativas me propus a estudar um pouco mais em casa...e foi esta dedicação entre os exercícios de respiração e a interpretação desta letra tão sensível e tocante que viajei nas minhas relembranças....

"Travessia de Milton Nascimento"não é uma música qualquer, ela fez parte de um momento delicado que não gosto de lembrar muito menos falar....mas que agora me senti encorajada a dizer....então diz...

Minha vida amorosa se resumiu em três relacionamentos, o primeiro namorado era meu amigo, tinha apenas quinze anos e durou poucos meses, já este segundo ao qual me refiro, foi um pouco mais tarde, estava com dezoito anos e nos conhecemos de uma maneira inusitada....

Estava em São Roque, interior de São Paulo, numa viagem de final de semana com o pessoal do serviço e assim, por acaso, fiz amizade com uma menina da cidade que me pediu para escrever no seu Caderno de Enquete, que nada mais era que um caderno comum com perguntas pessoais do tipo, seu nome, sua idade, aparência, relacionamentos, preferências, contato, enfim, a ficha completa, era a rede social da época e ali deixei minha identidade devidamente registrada.

Durante a semana, no trabalho, recebi a ligação de um rapaz com um sotaque lusitano marcante dizendo ser irmão da tal menina e que queria muito me conhecer.

Seduzida pela curiosidade e acreditando nas possibilidades nos encontramos, conheci a sua triste história de refugiado da Guerra Civil em Luanda, Angola e começamos a namorar....aí vem a parte ruim, fui usada e quando sua situação se legalizou aqui no Brasil, deixei de servir e fui descartada, me senti um nada, meu mundo se abriu e a letra do Milton me coube inteira...quase morri.

Hoje agradeço a essa pessoa que por vontade própria se retirou da minha vida.... não ficaram boas nem más lembranças, não sei ao certo o que ficou, a experiência talvez e claro, a música do Milton,"Travessia".



* Deixei a data da narrativa no dia que comecei a escrever por isso não corresponde, precisei de poucos dias para encontrar as palavras, acho que encontrei...











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