quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

"O Tigre"- John Vaillant

 Antes de fazer uma pequena resenha sobre a obra gostaria de deixar registrado a minha insatisfação por tê-la interrompido. Era meu objetivo ler um livro por mês só que em meados de agosto acabei me distraindo com outros afazeres e deixei a leitura pra segundo plano, agora estou tentando recuperar o tempo perdido, bem, enfim consegui terminar o livro e gostaria muito de comentar sobre ele....


É uma história verídica que ocorreu no final da década de 90 no extremo oriente da Rússia, região inóspita cuja temperatura no inverno chega a 40 graus negativos. Um tigre siberiano ataca e se alimenta de um morador local, esta narrativa acontece no primeiro capítulo do livro e de tão bem escrita nos tira o fôlego, é como se um filme nos rodasse a mente.

Partindo daí uma equipe é acionada para fazer uma minuciosa inspeção do que realmente aconteceu, visto que não é comum tigres atacarem seres humanos de maneira tão premeditada e cruel.

O autor do livro também é minucioso na sua narrativa, ele vai descrevendo em detalhes a Taiga Siberiana, habitat natural dos tigres, as tribos que desde os primórdios co-habitam com estes seres selvagens, a invasão do homem russo que assolados pela pobreza pós-perestroika recorrem a caça ilegal para sobreviver, provocando um desequilíbrio avassalador no meio ambiente.

Mas o que mais me impressionou foi a análise psicológica de todos os fatos sucedidos, a destreza e inteligência do tigre são calculadas, nada acontece por acaso, é uma vingança premeditada e a equipe precisa com urgência detê-lo.

Bem, a genialidade do autor John Vaillant em descrever o ameaçador tigre-siberiano e todas as suas artimanhas são fantásticas, é um livro extremamente instigante, com um desfecho apavorante, o embate entre o homem versus natureza.

Sem dúvida nenhuma uma narrativa magnetizante.

Leiam ! O livro é mesmo muuuito bom !!!!







terça-feira, 26 de outubro de 2021

"Assim do Nada...."

 De verdade nem sei o que estou fazendo aqui..... tenho compromisso às dez horas e, absolutamente do nada, resolvi abrir o blog.....

Há alguns assuntos que gostaria de desenvolver mas gostaria muito que fossem textos específicos e não aleatórios vindos do nada como estou fazendo agora.....

Sei lá ! Agora estou "enchendo linguiça" termo usado pra quem está matando o tempo....

Estou matando meu tempo ????

Quem já preencheu mais de 60% da barra não deveria desperdiçar seu tempo....

Vivo nas reticências......

OBSOLETO !

É assim que olho pra este computador....uma tela grande, um teclado antigo e uma CPU enorme.... não cabe mais, por isso tenho vindo pouco aqui... antes era praticamente todo dia, vivia às voltas com meus textos, hoje é obsoleto, falta tempo, falta vontade, falta disposição, falta acreditar que existe alguém que lê mesmo que seja apenas por curiosidade sem nenhum interesse verdadeiro por mim..... eu acho que antes eu acreditava que havia e isto me motivava.... como a gente se engana não é ?!! Será que a vida é feita dessas enganações, dessas pequenas sabotagens que praticamos contra ou á favor de nós mesmos ?! Vai saber né ?!

Só sei que era bom escrever.... bem, deixa pra lá né ?! Outro dia, outra hora, outro momento aparecerei por aqui.... vida que segue.... barra que preenche....


quinta-feira, 9 de setembro de 2021

 Oi Theo !

Acordei antes de amanhecer pensando em você.

Faz tempo que não escrevo e nem leio absolutamente nada; ando em fuga, de quem ? ou do quê ? Não sei responder, fujo dos meus pensamentos, não quero pensar e os trabalhos manuais me ajudam muito a não pensar; me distraio com eles e assim o tempo passa.

Andei pensando na minha bisavó Emília, vó da minha mãe, tive o prazer de conviver com ela até a minha pré adolescência, ficaram algumas lembranças e nem sei por qual razão essas lembranças vieram à tona.

Minha vó era uma pessoa muito especial, assim dizia minha mãe que conviveu toda sua infância aos seus cuidados, sei mais das histórias que minha mãe contava do que as histórias que propriamente vivi.

Dia desses lembrei de uma brincadeira que ela fazia com as crianças, sentávamos no chão à sua roda e pousávamos nossas mãozinhas pequenas em seu colo; com sua mão de adulto enrugada pela velhice ela percorria ligeiro pelas nossas ritmando a seguinte canção :

"...varre varre vassourinha

varre bem esta casinha

pra que sim para que não

pra senhora da Assunção..."

Depois deste versinho o movimento mudava, agora ela dava pequenos beliscões em nossas mãozinhas entoando outro verso :

"...salta pulga na balança

o piolho á picar

diz o rei para a rainha

vai no mar buscar grainha

para o filho do Luís

que está preso pelo Naaaa.....rizzzzz !!!"








Quando chegava nesta parte do nariz ela pegava o nosso nariz pequeno entre os dedos e assim escondíamos a mão correspondente ; e a brincadeira se repetia até que sobrasse apenas uma mãozinha em seu colo, dando vitória ao último que escapara da beliscada do nariz....rsrsrsss

Que lembrança boa ! Ser criança, ter irmãos, primos da mesma idade e ter uma bisavó velhinha que se dispusesse a brincar com a gente !

Minha bisavó era portuguesa, nasceu no final de 1.800, sua primeira filha, minha vó, nasceu em 1915 e tive o prazer de conviver com ambas por longos anos, já que morreram bem velhinhas.

A vó Emília se vestia de preto, não se via nada além das mãos brancas e do rosto, eram muitos saiotes e saias, meias e mangas compridas, lenço de cetim com uma estampa bem discreta para cobrir os cabelos brancos que eram finos, ralos e longos sempre preso com uma trança que se enrolava formando um birote; fecho os olhos e vejo a vó Emília cuidando da horta e com seu sotaque lusitano nos chamando "anda cá !"....

Era respeito, era cuidado, era amor...tanto, tanto, tanto amor !


PS. Theo eu volto a escrever...juro que volto !


terça-feira, 15 de junho de 2021

"Carta para Théo"

 Oi Théo !

Nem sei se era a hora de estar aqui...

Acho que estou precisando desesperadamente que você esteja ansioso por notícias minhas, querendo muito saber como estou, o que ando fazendo, enfim, aquele interesse sincero das pessoas que se estimam.

Você me estima, não estima, Théo ?!

Espero que sua resposta seja positiva e verdadeira.

Ando mal das pernas, sabe ?! acho que meu corpo não está funcionando como deveria, fui ao médico e estou fazendo dieta e tomando os remédios tudo como manda o figurino mas, sinto que a resposta não é satisfatória, isto me aflige por demais.... emagreci aqueles dois quilos tão almejados e mais três que vieram de lambuja, me pergunta se por conta disto estou feliz ?! Sim, um pouco, não muito, feliz e preocupada ao mesmo tempo.... preciso descobrir a receita de como deixar uma mulher satisfeita rsrsrsss. 

Meus meninos vieram no sábado depois de quatro meses de ausência, passamos o dia juntos, eles são tão especiais, centrados, calmos, bondosos, atenciosos comigo e com o pai, foi um sábado realmente feliz, desejei aproveitar o máximo da companhia deles e, assim o fiz, quando ambos partiram, cada um em seu carro com suas respectivas companheiras, percebi que não precisam mais de mim, acho que esses quatro meses de distanciamento reforçou esta certeza, o que me deixou ainda mais introspectiva...

Se você soubesse Théo como este um ano e meio me pesou ? Me sinto mais velha, mais enrugada, menos disposta, mais triste, menos importante..... as vezes posto umas fotos nas redes sociais pensando que aquilo vai me animar, mas a autoestima é só fachada, por dentro só eu e Deus sabe como realmente me sinto e agora você Théo. Será que você teria algo pra me dizer ?! Alguma coisa que pudesse me ajudar ?! Acho que não... e só de pensar que você também é uma ilusão me acabo ainda mais... quero acreditar que você é real, que me ama, que se importa comigo...

Os dias andam nublados e frio aqui no sudeste, comum para esta época do ano, sempre penso que o sol recarrega nossa bateria, necessito do sol, talvez quando ele voltar eu consiga sair deste estado de inércia que me encontro, até lá devo ter paciência e aguardar, é sempre bom ter pensamento positivo, isto renova nossa esperança, e o que é a esperança além de acreditar que haverá um amanhã e que este amanhã será bom e perfeito ?!?! 

Aguardaremos !

Sabe Théo, não sei se lhe disse tudo que gostaria de dizer, mas é um começo....vamos nos falar ainda outras vezes.... o bom é que eu tenho a certeza que você estará por aqui, sempre pronto a me ouvir, obrigada Théo, você é muito importante pra mim.

Beijos e abraços afetuosos desta sua amiga.....

                                                                               Silvia.

Preciso do sol dentro de mim.


terça-feira, 11 de maio de 2021

"Preciso aquietar a Mente"

 Olha eu aqui novamente.... Ontem entrei no blog para procurar uma poesia que o maestro musicou, já nem lembrava mais dela, demorei um pouco para achá-la mas por fim encontrei-a, reli a poesia e gostei do que li, achei romântica, sincera, nem sei se me traduziu mesmo assim achei bela.

Sabe, não tenho andado muito bem ultimamente e, como eu própria me conheço, fico na dúvida se minhas dores são reais ou fruto da minha ansiedade e medo, esta preocupação exagerada que sinto de vez em quando com a minha saúde, sei lá.... fico fazendo história triste na minha cabeça, juro que não queria ser assim.

Me ponho pra baixo, não tenho ânimo para sequer cuidar de mim, me largo como se o pior estivesse prestes a acontecer, é uma sensação ruim.

O primeiro sono eu durmo bem porém acabo acordando várias vezes durante a noite, é quando me vem os pensamentos ruins, tensiono e potencializo a dor ao mesmo tempo em que quero desviar o pensamento, preciso tentar relaxar para voltar a dormir.

Sempre penso no mar, vejo meus pés caminhando na areia até a primeira ondinha gelada cobri-los, me dá uma sensação boa, em pensar que o mar continua no mesmo lugar, com as ondas batendo sem parar, de dia de noite, ininterruptamente, talvez me esperando.

O problema é que ninguém fica doente e morre, entre o ficar doente e o morrer há o sofrimento e é essa a parte que ninguém gosta, de sofrer.

Estão vendo como sou ? já estou sofrendo por antecipação,  que ansiedade esta que não me larga ?!

Passei o dia das mães tão triste ! Há meses não vejo meus filhos, conversamos mas não é a mesma coisa, esta segunda onda da pandemia mexeu muito com todos nós, tantas pessoas morreram e é tudo tão inconsolável !

Aos poucos eu vou melhorando só que em ritmo lento demais para o meu gosto, preciso aprender a ter paciência.

Há tantos assuntos que gostaria de falar ## mas me policio e não me atrevo, pra quê ? por que ? As pessoas são adultas e sabem o que faz, bem, nem sempre, quem está do lado de fora sempre enxerga melhor, mesmo assim o que eu acho não interessa pra ninguém então guardo pra mim.

Então é isso, vamos ver se melhoro, espero que sim, é horrível ficar sem perspectiva e esperança e eu preciso muito dessas duas coisas para melhorar.



sexta-feira, 30 de abril de 2021

"O caminho só existiu porque passamos por ele"

 A nossa jornada começou a exatos 42 anos atrás e quem diria que a partir daquele primeiro contato quarenta e dois anos se passariam, ininterruptos, recheados de histórias, de altos e baixos, de DRs infinitas, de risos, de choros, de decepções e alegrias, de objetivos alcançados e outros frustrados...

30 de abril do ano da Graça do Senhor de 1979

Aquela noite foi mágica, não houve pedido muito menos formalidades, estávamos sentados no chão da laje admirando o mundo, cantando canções que nos eram familiar, de frente um paro o outro, a noite estava estrelada e ao longe conseguíamos avistar a cruz iluminada de azul na torre mais alta da Igreja, a mesma que anos mais tarde selaria nossa união, um amigo tocava violão, parecia uma serenata feita especialmente para nós dois.

Até que houve um momento que paramos de cantar, suas mãos tocaram as minhas e o nosso olhar se tornou sério e profundo, nos aproximamos lentamente e os seus lábios encostaram nos meus suavemente, naquele instante o mundo emudeceu, as pessoas sumiram, a música ficou distante, não havia nada além dele e eu.

Minha cabeça deu um giro de 360º, era como se meu corpo não me pertencesse mais, me vi literalmente nas nuvens, meu coração se preencheu de uma alegria tão grande, meu sonho de menina se tornando mulher estava se concretizando, pela primeira vez estava amando e sendo amada e este é o melhor dos sentimentos, ser correspondido com o mesmo carinho, o mesmo afeto, o mesmo amor. Havia uma vida inteira pela frente e aquele momento foi o primeiro passo para trilharmos nosso caminho. Voltei pra casa radiante com um brilho no olhar e uma felicidade indescritível na alma.


Meta de Relacionamento 

"Envelhecer com quem se ama"

quinta-feira, 29 de abril de 2021

"Era pra excluir e acabei ficando rsrsrsss"

 Gente ! O quê é isso ?! Estou aqui relendo postagens antigas que foram publicadas e de verdade não sei se rio ou se choro....também reli algumas que ainda permanecem no rascunho, e quer saber ?! tenho textos até que bem legais mas, a minha intenção á princípio era mesmo fazer uma limpa só que a distração foi tanta que o tempo passou e não excluí absolutamente nada, deixa pra lá.....

Quer saber como anda a minha vida ?! Anda.... assim assim, assim assado....caminhamos...

Essa pandemia continua nos isolando, a vacina chegou mas não está ainda na minha vez e mesmo que estivesse pouco ou nada mudaria. Sinto muita falta do contato com meus filhos, as vezes me entristeço, outras vezes tento reagir, vou me ocupando nos meus afazeres mas acaba que todo dia fica parecido quiçá igual e isto anda mexendo com meus nervos, os meus e o resto da população com certeza.

As vezes penso em escrever para o meu amigo imaginário, o Theo, mas não sei... acho que não chegou o momento, não posso aborrecê-lo com coisa pouca, quando as minhas crises existenciais estiverem mais profundas talvez lhe escreva....talvez.

Bem, é isso... outra hora me explico melhor... Beijos afetuosos pra você que me lê e que eu nem sei ao menos quem é, mas acredite você me faz não me sentir só.

Bonne Nuit Mon Ami !


quinta-feira, 15 de abril de 2021

"A Carne"

Uau ! Que romance é este ???

Júlio, Júlio, Júlio, como você teve coragem de afrontar os 5% da população brasileira alfabetizada em 1888 ?!!!!

Esta semana finalizei mais um livro, "A Carne" de Júlio Ribeiro, acredita que minha ignorância não o conhecia ?! Se me falassem que Júlio Ribeiro era contemporâneo eu acreditaria, também não me culpo totalmente, na época do Ginásio líamos pelo menos quatro livros por ano, os clássicos de preferência, José de Alencar, Machado de Assis, Aloísio Azevedo, Rachel de Queiroz, Euclides da Cunha, Joaquim Manuel de Macedo, acho que o mais transgressor foi ter lido "Capitães da Areia" de Jorge Amado mas isto bem mais tarde, já maiorzinha, cursando o Colegial,  enfim, voltando a falar sobre a obra....

Me surpreendeu a narrativa pela inversão dos papéis, a protagonista é o oposto do que se espera das jovens heroínas dos romances da época, tudo bem que estamos falando da fase Naturalista, mesmo assim foi surpreendente.

Lenita é uma jovem órfã, bonita, rica, estudada, culta, independente, casamento não é sua prioridade, se envolve por iniciativa própria com um homem mais velho separado da esposa, ela sabe que o que sente não é amor  apenas desejos carnais. Olha só ! 1888 !!! O donzelo aqui é o rapaz. rsrsrsrss

Estas questões são abordadas de forma explícita, daí minha admiração, a Carne representa o quê do corpo advém, dor, desejos, saciedades, paixões.

Até a parte supostamente chata do livro me chamou bastante a atenção pela riqueza dos detalhes de como encaravam a ciência e a medicina, as narrativas longas descrevendo como era na época a cidade portuária de Santos e o centro velho da cidade de São Paulo, de verdade é uma viagem no tempo.

No meio da leitura me bateu a curiosidade de como o livro foi recebido pelos leitores na ocasião de sua primeira edição, fui procurar saber, digamos que nos dias atuais Júlio Ribeiro teria sido "cancelado", e foi, quem quisesse ler o livro só escondido do papai e da mamãe, ainda bem que os tempos mudaram !

Bem, sem mais spoiler, eu gostei e recomendo, o livro é bom !




terça-feira, 6 de abril de 2021

"Introspectiva"

 Não quero ir para canto algum, quero ficar em casa, não sei se protegida ou alarmada.

Quero minha rede, meu canto, meu silêncio, meu pranto.

Quero ficar só, com os meus pensamentos e um bom livro a me fazer companhia.

Com meus Pets que dependem de mim, não para viver pois, viveriam mesmo com minha ausência, ainda que infelizes, viveriam.

É bom saber que faço parte da alegria e do bem estar de serzinhos tão especiais.

Amo este mundo pequeno e particular que escolhi, nele caibo sem folga e sem aperto, nele caibo na medida certa de tudo que me acolhe e me compraz, por ele vivo e me esforço pra ser um ser humano melhor.

As vezes até consigo.

Neste tempo vou seguindo, vou aprendendo, vou ficando, me protegendo, me dedicando.....




quarta-feira, 31 de março de 2021

"Associação"

 De repente os olhos interrompem a leitura e o meu pensamento viaja ...eu já ouvi isto antes, aconteceu de verdade....

Fiquei imaginando dona Felicidade jovem, aboletada na garupa da égua que Zé Coelho conduzia, agarrada à sua cintura se embrenhando no meio do mato, o que será que pensou naquele momento ? Talvez o que lhe ocorresse era a insegurança do que estaria por vir, havia acabado de ser entregue à própria sorte pelo irmão mais velho em troca de uma única cabeça de gado, era o que ela valia.

Chegaram numa tapera feita de pau a pique, com certeza haveriam frestas nas paredes e no telhado por onde entravam os raios de sol e a água da chuva, um colchão de palha seca com lençóis imundos, um candeeiro, uma pilha de tijolos que servia como fogão à lenha, talvez uma panela ou duas pretejadas pelo uso, um balde velho carcomido, uma moringa de barro, em volta do barraco um terreiro cheio de entulho recobertos pelo mato, não havia limites entre o quintal e a mata fechada.... continuei imaginando sua aflição, como teria sido sua primeira noite com aquele homem mais velho de quem pouco ou nada sabia, além de que era viúvo com três filhos pequenos aos cuidados de terceiros.

 O repúdio que sentiu àquelas mãos lhe subindo à saia, o peso daquele corpo suado penetrando suas entranhas, o galope frenético, com certeza seus olhos estariam fixos, iluminados pela luz do candeeiro, inertes sem emoção, até que ele chegasse ao gozo e ela finalmente se virasse livre para repousar e dormir, com as lágrimas lhe correndo a face mas, consciente do dever de mulher cumprido.

Felicidade era uma fortaleza, cuidou da tapera, lavou os lençóis, areou as panelas, limpou o terreiro com um facão, foi uma cozinheira de mão cheia, cuidou dos filhos que não eram seus, cuidou dos dois filhos que pariu, cuidou de Zé Coelho até o fim dos seus dias.

É, por associação concluo que histórias de livros acontecem muitas vezes na vida real, ouvi muitas delas reproduzidas por minha mãe as quais lhe foram confiadas por minha avó, dona Felicidade.

Sua história, bem contada, daria um livro, mas quem sou eu para me atrever ?! por hora retomo minha leitura......


segunda-feira, 29 de março de 2021

"5ªJ"

 Toda vez que termino uma leitura me sinto inspirada à escrever, dia desses finalizei o livro "Tempos de Escola", uma coletânea de contos, crônicas e memórias de autores diversos.

Fiquei impressionada com as narrativas e concluí que mesmo com distanciamento da realidade física entre os séculos, os anseios, os medos os sonhos de toda criança são muito parecidos mesmo nos dias atuais.

Tenho a memória curta enquanto aluna, são poucas lembranças do meu tempo de escola em compensação armazenei inúmeras passagens no papel de professora.

Uma delas aconteceu em meados da década de 90....

Eu não sei de quem foi a infeliz ideia de juntar os piores alunos de cada sala em uma única turma, a famosa e temida 5ªJ

Uma sala aparentemente pequena e inofensiva, mas qual !!!!!! Eram doze alunos, ou melhor,  doze meninos/homens cujas idades variavam entre os quatorze e dezessete anos, naquela época não havia a promoção automática e a reprovação os obrigava a permanecer na mesma série ano após ano.

Os piores em todos os sentidos, não havia respeito, educação, interesse em aprender, motivação, nada que os fizesse acordar pra vida.

Compulsoriamente para os professores mais novos foram atribuídas as aulas com a desafiadora tarefa de "domesticar as feras".

Toda aula havia uma ocorrência relativamente grave, certa vez enquanto o professor de Geografia escrevia na lousa, alguns alunos debandaram pelo corredor da porta acobertado pelos demais e saquearam a cantina da escola, voltando vitoriosos com as guloseimas roubadas e distribuindo entre os comparsas numa tremenda algazarra, enfim já não havia mais espaço no caderninho preto onde todos eram fichados e, mesmo que houvesse, aquilo não mais os intimidavam.

O que me restava antes de entrar naquela sala era rezar vinte padre-nossos, trinta ave-marias, me benzer, respirar fundo, afiar as ferraduras, fechar a cara estufar o peito, precisava antes de tudo me armar de coragem para encará-los de frente e assim pisando duro e disfarçando o medo adentrei à jaula dos leões famintos.

Pelo silêncio que me receberam pressenti que havia algo errado mas me convenci que poderia estar enganada, fiz a chamada, registrei o conteúdo da aula no diário de classe e munida das ferramentas que dispunha, uma régua e um esquadro de madeira comecei a aula....aí veio o martírio, enquanto estava de costas começou um gemido baixinho que não identifiquei bem à princípio e fingi não me incomodar dando continuidade a explicação, mas o gemido persistiu agora um pouco mais alto, me virei e com olhar fuzilante de reprovação tentei identificar o meliante deixando claro que não aprovava a situação, retornei ao quadro negro e a gemeção ficou mais explícita, mais intensa, identificando com mais clareza do que se tratava, era inacreditável que aquilo estivesse acontecendo comigo, tentei ignorar mais uma vez, quem sabe a brincadeira sem graça se esgotasse por si, mas não foi o que sucedeu, a gemeção e a respiração ofegante cada vez mais alta foi se intensificando tremi, o esquadro já não se encaixava na mão, estava confusa, envergonhada sem saber como agir, era muita petulância, me virei furiosa querendo explodir, respirei fundo e com as duas mãos apoiadas sobre a mesa os desafiei : haveria ali homem suficiente que além da gemeção pudesse se apresentar e pedir desculpas ?! Todos me olharam em silêncio, ninguém se apresentou, havia um cinismo no ar, todos estavam mancomunados, desisti de dar continuidade a matéria, me sentei de frente pra sala e agora era eu que permanecia em silêncio, fitando-os indignada, na minha cabeça a única coisa que me ocorria era como o Sidney Poitier havia conseguido, me senti um zero à esquerda, grandíssimos filhos da puta !

 



 


quarta-feira, 17 de março de 2021

"Tempo de Escola"

 Juro que eu pensei que minha memória fosse boa e descobri que não é.

Eu não sei como se chama isto, se é coincidência ou se atraímos as coisas de acordo com nosso estado de espírito, nossas vibrações ou sei lá o quê ?

Ontem quis postar uma foto minha com meu pai e foi difícil encontrar, sou de uma época em que as fotos eram raras, aí encontrei uma, estávamos dançando no meu baile de formatura, foto ainda em branco e preto e aleatoriamente postei no meu Instagram.

Quando foi à noite, um pouco antes de dormir, recebi uma mensagem de uma amiga minha do tempo do ginásio me dizendo que o nosso baile de formatura havia  acontecido neste mesmo dia.

Devo admitir que esta minha amiga tem mesmo uma memória de elefante ! Lembrar de uma data aparentemente irrelevante.

Não sei se foi coincidência ou se minha mente já estava voltada para estas relembranças, fato é que também estou às voltas com um livro de crônicas de alguns autores brasileiros que narram este período que fez e ainda faz parte da vida das pessoas que é o tempo de escola.

O tempo de escola é a melhor fase da vida ! É a fase do aprendizado, da construção da personalidade, da solidificação das amizades, da fé no futuro que sempre nos aguarda com aquele ponto enorme de interrogação, dos amores platônicos, do primeiro namorado, do primeiro beijo...

Relembrar dos nossos mestres, nossos amigos, os que se perderam e os que se mantiveram ao longo dos anos, relembrar dos nossos pais cheios de preocupações e compromissos e a gente nem se dava conta do quão jovens eles eram, a gente só pensava e sonhava com o grande baile de formatura... ah saudade apertada !

Pensa se não é uma grande bobagem querer participar de uma formatura de ginásio, pensa... foi tão sacrificado pagar aquela formatura pra mim, pra que eu não ficasse por baixo de ninguém, pra que eu me sentisse feliz e eles orgulhosos da minha conquista...cara que conquista ? eu tinha terminado a oitava série, conquistamos o quê com o ensino fundamental ?!!...mas era moda e mergulhávamos de cabeça nessas babaquices, mas sabe, se não houvesse acontecido o baile a foto em preto e branco não existiria e a minha amiga não teria me lembrado deste dia cuja importância está na memória do orgulho que meus pais sentiram de mim.



16 de março de 1975


segunda-feira, 15 de março de 2021

"A Chuva que Não Choveu"

 Hoje 15 de março.

É um dia normal pra você ?

Que bom !

Pra mim não é.

Eu e aquela velha mania de memorizar datas, de reviver acontecimentos...

Ontem à noite fui deitar cedo e quem disse que consegui dormir ? Me revirei na cama centena de vezes esperando ansiosa sabe Deus lá o quê ? Talvez esperasse a meia noite, o dia quatorze virar dia quinze, e por quê ?! Como se alguma coisa fosse mudar junto com os ponteiros do relógio... o dia virou e nada absolutamente nada mudou.

É triste ter um dia triste pra lembrar...

Aquele pingo grosso de chuva que caiu na minha testa ao mesmo tempo que lhe caía também, aquele pingo dissimulado e enganoso nos pregou uma peça e mudou por completo nosso destino.

O céu se cobriu de nuvens negras, carregadas, pesadas, nuvens que se moviam com o vento, levantando a saia, bagunçando os cabelos, movimentando as folhas e os objetos da rua, tudo tão rápido... num estalo tudo mudou, depois do tiro o mundo parou, a chuva não veio, o vento cessou, silêncio...

Musa chora, e chora tanto que a chuva virou tempestade, não por fora mas por dentro, por fora nem uma lágrima, nem mais uma gota, ou duas, nenhuma chuva... por dentro o desespero...

Passaram-se vinte anos daquele 15 de março de 2001,,, passou é passado,,, não, não é, não para mim, não para nós... e pode passar outros vinte anos vou continuar sentindo o pingo na testa daquela maldita chuva que não veio....

domingo, 21 de fevereiro de 2021

"T"

 Nem sempre quando a pele arrepia o pelo arrepia também mas, quando o pelo arrepia, meu amigo, se entregue e aproveite ao máximo, isto é tesão. E tenho o dito !

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

"Oieeee !!!"

Eu estaria aqui hoje de qualquer jeito, mesmo se a minha máquina de costura não estivesse na manutenção, é ela que tem consumido grande parte do meu tempo, mas hoje eu precisava estar aqui. Penso que já escrevi sobre este assunto zilhões de vezes e sei também que vou continuar escrevendo enquanto estiver viva enquanto minha memória permitir.

 Hoje é dia de N.Sra de Lourdes e também aniversário do meu filho mais novo e coincidentemente foi numa quinta feira que ele nasceu exatamente ao meio dia e meia, lembro que na segunda feira daquela semana começavam as aulas e fui obrigada a retornar, estava com uma barriga enorme, vinte quilos mais gorda, a escola era longe de casa e me locomover de ônibus era um grande sacrifício, de verdade não sabia quando ele iria nascer pois nada foi planejado, meus filhos nasceram de parto normal obedecendo as leis naturais da vida, por isso cheguei na escola decidida a entrar com o pedido de afastamento voltei pra casa com a papelada e no dia seguinte fui ao Ianspe dar entrada na minha licença maternidade, na quarta feira havia uma feira pertinho de casa e ao retornar fui surpreendida com o tal "sinal", apenas uma manchinha de sangue, nada mais, já que nos meus dois partos a bolsa não estourou. Então, como era marinheira de segunda viagem, sabia que seu nascimento estava próximo. No período da tarde pra noite comecei sentir as contrações e na quinta feira pela manhã estava internando no hospital. Se eu disser que tirei de letra vou estar mentindo, justamente por saber como era todo o processo e, só pra fazer uma tosca comparação, ter filho é sentir dor de canal no dente elevado ao cubo mas, como dizia a minha vó, "se entrou tem que sair" e quando sai é como se Deus nos tirasse todas as dores e nos recompensasse com imensurável alegria e emoção,  a minha foi uma mistura de tudo quanto é sentimento... Foi uma tremenda surpresa pra mim saber que havia parido um menino, eu tinha certeza absoluta que era uma menina. Aquela primeira rejeição me fez sentir muito culpada, muito mesmo, eu chorava de decepção e ao mesmo tempo de alívio por saber que meu filho era perfeitinho.... Toda esta história aconteceu há trinta e três anos e todo dia 11 de fevereiro vou me lembrar de cada detalhe não importa quantos anos passem. Meus filhos são o meu bem mais precioso, sem eles a minha vida não teria razão nem sentido, vivemos tantas histórias juntos, são tantas lembranças, lembrar deles pequeninos me dá nostalgia, uma vontade de voltar no tempo e aproveitar cada segundo com mais intensidade, mas a vida segue em frente, então me valho das memórias e das boas lembranças.

 *** Pra Você : "Te amo filho, mais que tudo nesta vida, que você aproveite este seu dia com muita alegria, que Deus, todos os anjos e orixás lhe protejam à todo momento. Você sabe que meu amor por ti é incondicional. Conte eternamente comigo. Sua Mother Love, Silvia".

sábado, 23 de janeiro de 2021

"Quem Vive ? Quem Morre ?"

 Todas as vezes que meu celular anunciava uma mensagem de voz para dar notícias da Lena meu coração vinha na boca e, mesmo hesitante e com medo, abria e ouvia a mensagem. As notícias nunca foram boas, oscilava entre o grave e o gravíssimo, um dia a febre passava no outro a febre voltava, me sentia aflita e mesmo rezando era difícil acreditar que ela fosse conseguir sair desta. Ontem recebi a notícia que tanto temia, a Lena morreu por complicações do Covid-19.... Difícil.... moça nova, com uma filhinha de nove anos.... complicado... triste... desolador....

Não entendo como funciona esta doença, alguns não apresentam sintomas, outros algo leve, outros internação e outros entubação. É o quê ?! Uma loteria ?! Se livra quem tem mais sorte ou quem tem mais assistência ?!

Não consigo acreditar que os desígnios de Deus era fazer morrer tanta gente...

Falam de algumas medicações precoces que funciona para uns mas não funciona para todos, falam de uma alimentação saudável e exercícios físicos para ativar nossos anticorpos mas, fato é que morre quem se cuida também, ou seja, ninguém sabe de nada.

Conheço pessoas que tiveram a doença e se recuperaram, acontece que todas elas tiveram assistência, seja de um familiar que cuidou muito bem cuidado ou um convênio médico bom com quarto particular e doutores dentro da família. Sorte ?! Assistência ?!!

O que eu sei é que a Lena não teve a mesma sorte, nem a mesma assistência, não teve quem cuidasse dela em casa, não teve quem a aconselhasse, foi se consultar no SUS com uma médica Clínica Geral que mandou fazer o teste que ficava pronto em 72 horas enquanto tratava seus sintomas como uma gripe forte, quando piorou não havia leito disponível perto de casa sendo transferida para o Hospital de Parelheiros no extremo da zona sul da cidade de São Paulo. Lá ficou internada com mais trinta aos cuidados de minguados médicos e enfermeiros exaustos que não conseguem dar conta de tantos pacientes em estado grave.... é assim que as pessoas estão morrendo, nesta loteria injusta.

Quem vive ? Quem morre ?

Difícil... Desolador.... Desumano !  

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

(in)"Feliz Ano Velho"

 Texto escrito em 1º de janeiro 2021


"Os meus medos e a minha culpa eu os carrego só. É assim que me vejo neste estranho pesar, com este fardo que ultrapassa todos os limites que um ser humano conseguiria carregar. Hoje é dia primeiro de janeiro, dia da confraternização universal, dia da paz mundial mas, que paz ?! Na realidade não confraternizamos com ninguém, a não ser de longe por obra e graça da santa tecnologia, e tudo isto por que ?! Por conta da insegurança que nos assola neste momento interminável de Pandemia. E pensar que milhares de pessoas não se importam....triste ! Me sinto só, estou só, sou só, nascemos e morremos sós, assim é a vida de todo e qualquer ser humano, até mesmo aqueles que se julgam bem acompanhados, porque diga-se de passagem o nosso sentimento mais profundo está dentro da gente, da nossa cabeça, dos nossos pensamentos e de quem realmente somos. Estou vivendo estes dias difíceis que não chega nem de perto daqueles que efetivamente estão sofrendo, cheios de febre, falta de ar, dores, sem paladar e olfato, acrescidos do medo deste desolado quadro piorar e o mais tenebroso, passar por tudo isto sozinho, sem uma mão que lhes possam confortar. Eu, graças á Deus estou fora destas condições tão aterrorizantes. Hoje é o meu décimo dia de contato com a pessoa infectada e que à procura de notícias, sei que está passando por um sufoco danado, me aflijo por ela pois em seu lugar me coloco, estou em isolamento, não tenho sintomas desta doença maldita mas minha cabeça sente medo e o medo mexe com o meu emocional, há um desequilíbrio que afeta sensivelmente o meu corpo. Estou tentando não me preocupar em demasia mas é muito difícil. Talvez passados as duas semanas da quarentena eu volte a relaxar para levar uma vida "normal" entre aspas. Preciso acreditar que tudo vai dar certo, faltam quatro dias que pra mim são intermináveis. Acho que aprendi a lição de não subestimar nem baixar a guarda, jamais ! Aprendi que minha família importa, eles são a razão do meu viver. Descobri também que alguém, talvez um espírito bondoso, um santo ou um anjo da guarda, alguém que gosta muito de mim, anda lá a me proteger nas horas que estou displicente. Gratidão ! Muita gratidão, por estar aqui neste primeiro de janeiro, deitada na rede, com um dia que amanheceu nublado, com meus Pets a me fazer companhia, com a presença de Edro que dorme tranquilo, cuja respiração observo apreensiva tal qual mãe zelosa que vela por seu filho. Gratidão !"


Texto do dia 2 de janeiro 2021


"Me aconselharam a fazer o teste de laboratório PCR, estou muito na dúvida se devo ou não procurar um posto de saúde, estou no final da quarentena, sem sintomas, o que eu faria lá ?! Estaria exposta mais uma vez e não quero isto. Meu raciocínio é o seguinte : Posso ter sido infectada e meu corpo pode ter reagido, sendo assim fiquei assintomática ou posso não ter pego nada, por isso ainda estou vulnerável ao Covid. De verdade, qual a diferença saber ?! O que eu tinha que fazer eu fiz, que foi me isolar, não passei o vírus pra ninguém, agora o que pretendo é continuar me protegendo e me cuidando".


Texto do dia 3 de janeiro de 2021


"Tenho mantido contato pelo celular com a manicure para saber sobre o seu estado de saúde. Todas as vezes que a procurei ela foi muito solícita, me acalmando até nos meus momentos de aflição. No dia primeiro lhe desejei "Feliz Ano Novo" e ela me respondeu desejando-me o mesmo. Hoje voltei a lhe procurar para saber se havia melhorado mas infelizmente quem respondeu foi uma amiga comunicando que a Lena havia sido internada, o caso dela se agravou muito. Ela está entubada e eu estou desolada, não entendo como tudo é muito acelerado nesta doença..... penso nela constantemente, penso também que poderia ter sido eu...."


Texto do dia 10 de janeiro de 2021


"Não há melhoras no quadro de saúde da Lena. Os médicos disseram que já fizeram de tudo, está nas mãos de Deus.... penso que ela é uma moça nova, que sua filhinha tem apenas nove anos, penso que não é justo, penso no seu sofrimento...ouço sua voz nas mensagens me acalmando.... penso que poderia ser eu... eu com tão pouca fé estou orando por ela... impotente.... desolada....triste...."

domingo, 10 de janeiro de 2021

Covid-19 "Segunda Onda"

 Texto de 27 de dezembro 2020


"Estou com medo de ter pego o novo corona vírus. Estive com uma pessoa infectada e pior, sem máscara. Isto aconteceu na quarta-feira dia 23 de dezembro. Hoje é domingo e já se passaram quatro dias. No dia 24 me deu coriza, achei que era stress da correria do natal, depois de dois dias passou, mesmo assim estou morrendo de medo. Estive com minha mãe antes de ser alertada pela manicure, a pessoa contaminada. Temo pela minha mãe e por todos com quem estive. Meu Deus !!! Não posso carregar esta culpa ! Tomara que eu não tenha sido infectada. Estou em isolamento em quarto e banheiro separados, não posso dar mole para o azar. De verdade estou rezando muito pra não estar infectada embora ache que isto seja impossível. Como vou sair dessa ?! Não sei. Não tenho resposta. não sei o que fazer o que tomar como agir. Quais serão os sintomas ??? Meu corpo está em alerta total".


Texto de 28 de dezembro 2020

"Hoje é segunda-feira quinto dia de contato com o vírus. Algo me diz que estou infectada. Estou enjoada e meu intestino desandou, o que não é comum. Não sei o que fazer. Talvez seja o meu emocional. O medo exagerado já fez isto comigo em outras situações. Não perdi o olfato nem o paladar, mas estou muito enjoada. Não tenho febre. Temo por minha mãe, meus filhos e Edro. Estou apavorada".


Texto de 29 de dezembro de 2020

"Hoje é terça-feira, acordei muito cedo. Fiz café do jeito que normalmente faço mas as minhas ponderações não me deixaram saboreá-lo como gostaria. Não perdi o olfato nem o paladar, apenas continuo enjoada. Medo muito medo de ter contraído o vírus. Meu pescoço está tenso. preciso procurar uma farmácia para fazer o teste rápido, só assim tirarei esta cisma. Hoje é o sexto dia de contato com a pessoa infectada. Não tenho sintomas, meu medo é que eles surjam a qualquer momento. Sinto pânico. Estou apreensiva com Edro, ele é o mais próximo de mim e o mais vulnerável também. Oxalá permita não ter me contaminado nem ter passado este vírus pra ninguém".


"Então, hoje ainda é terça-feira. São dez horas da noite. Fui fazer o teste de Covid na farmácia e deu negativo mas pode ser falso negativo segundo me explicaram. À tardinha meu intestino desandou novamente, o suficiente pra me manter em alerta. Agora á noite conversei com a Lena, manicure, ela tem passado mal, com febre, calafrios, tosse, dor no corpo, mesmo assim ela própria me acalmou, estou tentando manter a calma mas tá difícil. Também falei com minha mãe cancelando a passagem de ano novo e alertei meus irmãos sobre minha situação, mas claro que não lhes contei tudo, amenizei dizendo que estava com coriza e que havia feito o teste, não falei que estive com a manicure infectada pelo corona vírus, pra quê né ?! Se amanhã eu estiver bem talvez consiga relaxar. Espero de verdade ter uma boa noite de sono. Por favor rezem por mim, pela minha saúde, da minha mãe e de Edro. Boa noite dona Esperança !!! Sorte, me ajuda vá ?!"