Sempre tem uma história perdida entre tantas que já escrevi com o tal do "continua..." mas que na verdade nunca continuei.
Hoje acordei pensando na casa de Itaquera.
Não sei por que me veio tão nitidamente na lembrança o dia da nossa mudança.
Primeira semana de Janeiro / 1994. Domingo de manhã bem cedo, havia sol.
Lembro que segui o caminhão de carroceria simples que levava os nossos pertences a céu aberto, tudo devidamente amarrado e encaixado para não haver perdas ou danos. Fui dirigindo o fusca no sobe e desce da avenida Itaquera na lentidão de quem acompanha um cortejo fúnebre, e era um cortejo dentro de mim, com a vó Isabel do meu lado carregando o saleiro no colo como se carregasse uma caixinha de joias.
Havia passado a semana inteira acomodando os pertences em caixas de papelão devidamente lacradas e etiquetadas para que nada se perdesse, o banco de trás do fusca estava repleto delas.
Um dia antes da mudança fomos eu e meu marido limpar a "casa nova" que de nova não tinha nada, era uma casa velha que a muito custo havíamos comprado naquele lugar longínquo literalmente perdido no mapa.
Meu pai havia feito alguns reparos, pintou as paredes e deixou tudo ajeitado... fez tudo o que pôde para me ajudar, mas isto foi só a parte material, o mais bonito que ele fez foi ter me dado força para partir e seguir adiante, me disse olhando fundo em meus olhos que eles, tanto o pai quanto a mãe eram o meu porto seguro e que estariam sempre presentes caso um dia eu precisasse, disse que seria feliz ali porque agora estava morando na minha casa e que aquele teto era meu, nada deveria temer.
*Nossa ! Quanta saudades que sinto do meu pai, do braço forte da mão firme segurando as minhas, meu pai era o meu porto seguro !
Só pra se ter uma vaga ideia do que passei vou tentar resumir como era a minha vida antes da mudança.
Quando casei fui morar de aluguel numa casinha de quarto, sala, cozinha e banheiro, pertinho da casa dos meus pais, dava pra ir á pé, e ia, todos os dias ver meu pai e minha mãe, mas não era só isso...
Há muitos anos atrás, quando os bairros eram verdadeiras chácaras, minha Bisavó Emília comprou as duras penas um pedaço grande de terra que ia de uma rua a outra, quase um quarteirão. Ali ela se instalou e dividiu suas terras com as três filhas que consequentemente dividiu os seus lotes com seus respectivos filhos, ou seja, eu não morava apenas perto dos meus pais, morava próximo da família inteira, avós, tios avós, tios, primos de primeiro e segundo grau, éramos uma grande família literalmente, e me sentia acolhida e protegida por todos eles, aquele era o "meu lugar".
Sair de perto da minha família era partir rumo ao desconhecido, ao desamparo, ao enigma de como tudo iria ser dali por diante, por isso as palavras de encorajamento dos meus pais foram tão importantes naquele momento.
Fiquei parada ouvindo-o com os olhos marejados me segurando pra não desabar, com o coração apertado, mas me fazendo de forte, afinal sou filha do seu Virgílio.
Deixei pra chorar à noite, deitada na cama chorei baixinho e sozinha para que meus filhos não ouvissem pois sabia que eles estavam sofrendo também, hoje eu sei que de todos nós quem sentiu a dor maior foram meus pais sem nenhuma sombra de dúvidas.
Foi tão difícil acostumar, pra falar a verdade nunca aceitei aquela condição, apenas aprendi a lidar e a conviver naquele contexto.... há tantas histórias...
Mas hoje vou ficar só com as lembranças da mudança... quando o caminhão estacionou rente a calçada minha vó Izabel saltou do fusca apressadamente e se pôs à frente de todos, queria ser a primeira a entrar na casa com o tal do saleiro na mão, segundo sua crença o sal representava a fartura e se o sal entrasse primeiro nunca me faltaria nada.
*Verdade vó, a parte material nunca nos faltou....
Hoje acordei pensando na casa de Itaquera.
Não sei por que me veio tão nitidamente na lembrança o dia da nossa mudança.
Primeira semana de Janeiro / 1994. Domingo de manhã bem cedo, havia sol.
Lembro que segui o caminhão de carroceria simples que levava os nossos pertences a céu aberto, tudo devidamente amarrado e encaixado para não haver perdas ou danos. Fui dirigindo o fusca no sobe e desce da avenida Itaquera na lentidão de quem acompanha um cortejo fúnebre, e era um cortejo dentro de mim, com a vó Isabel do meu lado carregando o saleiro no colo como se carregasse uma caixinha de joias.
Havia passado a semana inteira acomodando os pertences em caixas de papelão devidamente lacradas e etiquetadas para que nada se perdesse, o banco de trás do fusca estava repleto delas.
Um dia antes da mudança fomos eu e meu marido limpar a "casa nova" que de nova não tinha nada, era uma casa velha que a muito custo havíamos comprado naquele lugar longínquo literalmente perdido no mapa.
Meu pai havia feito alguns reparos, pintou as paredes e deixou tudo ajeitado... fez tudo o que pôde para me ajudar, mas isto foi só a parte material, o mais bonito que ele fez foi ter me dado força para partir e seguir adiante, me disse olhando fundo em meus olhos que eles, tanto o pai quanto a mãe eram o meu porto seguro e que estariam sempre presentes caso um dia eu precisasse, disse que seria feliz ali porque agora estava morando na minha casa e que aquele teto era meu, nada deveria temer.
*Nossa ! Quanta saudades que sinto do meu pai, do braço forte da mão firme segurando as minhas, meu pai era o meu porto seguro !
Só pra se ter uma vaga ideia do que passei vou tentar resumir como era a minha vida antes da mudança.
Quando casei fui morar de aluguel numa casinha de quarto, sala, cozinha e banheiro, pertinho da casa dos meus pais, dava pra ir á pé, e ia, todos os dias ver meu pai e minha mãe, mas não era só isso...
Há muitos anos atrás, quando os bairros eram verdadeiras chácaras, minha Bisavó Emília comprou as duras penas um pedaço grande de terra que ia de uma rua a outra, quase um quarteirão. Ali ela se instalou e dividiu suas terras com as três filhas que consequentemente dividiu os seus lotes com seus respectivos filhos, ou seja, eu não morava apenas perto dos meus pais, morava próximo da família inteira, avós, tios avós, tios, primos de primeiro e segundo grau, éramos uma grande família literalmente, e me sentia acolhida e protegida por todos eles, aquele era o "meu lugar".
Sair de perto da minha família era partir rumo ao desconhecido, ao desamparo, ao enigma de como tudo iria ser dali por diante, por isso as palavras de encorajamento dos meus pais foram tão importantes naquele momento.
Fiquei parada ouvindo-o com os olhos marejados me segurando pra não desabar, com o coração apertado, mas me fazendo de forte, afinal sou filha do seu Virgílio.
Deixei pra chorar à noite, deitada na cama chorei baixinho e sozinha para que meus filhos não ouvissem pois sabia que eles estavam sofrendo também, hoje eu sei que de todos nós quem sentiu a dor maior foram meus pais sem nenhuma sombra de dúvidas.
Foi tão difícil acostumar, pra falar a verdade nunca aceitei aquela condição, apenas aprendi a lidar e a conviver naquele contexto.... há tantas histórias...
Mas hoje vou ficar só com as lembranças da mudança... quando o caminhão estacionou rente a calçada minha vó Izabel saltou do fusca apressadamente e se pôs à frente de todos, queria ser a primeira a entrar na casa com o tal do saleiro na mão, segundo sua crença o sal representava a fartura e se o sal entrasse primeiro nunca me faltaria nada.
*Verdade vó, a parte material nunca nos faltou....
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