Nosso GPS, Waze, Google Maps em 1977 era um livro brochura ao qual consultávamos qualquer itinerário desconhecido, o impresso era tão grosso que mais parecia uma bíblia, claro que no sentido figurado, embora muitas vezes dependendo do destino era mesmo necessário rezar antes de sair de casa.
Chamava-se "Guia de Ruas de São Paulo e seus Municípios" embora na minha humilde opinião devesse chamar "Guia de São Longuinho" pra gente poder dar três pulinhos quando estivéssemos perdidos e nos acharmos rapidinho somente com a ajuda do Santo e de mais ninguém.
As suas dimensões era do formato de uma agenda, não muito grande mas bastante volumoso, no índice constava o CEP, o nome das ruas em ordem alfabética, o Bairro e seguia também as coordenadas com letras e números pra gente poder se localizar dentro do mapa cujas páginas se interligavam numa cartografia minuciosa com letras minúsculas, achar determinada rua era tarefa demorada que exigia atenção, tempo, paciência e zero grau de miopia.
Bom, naquela época eu andava á procura de emprego, e encontrar propostas honestas e atraentes no jornal era como achar agulha no palheiro até que folheando o periódico de domingo me deparei com um classificado que me chamou bastante a atenção, recortei o anúncio com a tesoura e fui procurar no "Guia" o tal endereço anotando-o num pedacinho de papel.
Saí de casa na segunda-feira de manhã bem cedo, cabelo liso bem penteado, sapato de salto pra alongar a silhueta, trajava um vestido azul clarinho lindo cujo comprimento abaixo do joelho atestava minha decência, pouca maquiagem e munida de coragem, determinação, RG, CLT e o endereço do escritório que anotei no dia anterior.
Acontece que o centro velho de São Paulo pra quem pouco ou nada conhece se torna um grande labirinto e eis que me perdi, sim estava literalmente perdida e extremamente envergonhada pra pedir qualquer informação. Pra mim era inadmissível que uma paulistana como eu não conhecesse sua cidade natal, foi aí que tive a brilhante ideia em me fingir de "Turista Perdida no Centro" e arrastando um sotaque lusitano pedi informação para algumas pessoas que passavam, não sei se minha atuação foi convincente o que sei é que fui cordialmente atendida, consegui me localizar e retomar o meu caminho com rosto fervendo pela vergonha e a cara de pau de ter feito tamanho fingimento, mas vergonhas à parte, cheguei no endereço da vaga pretendida.
Era um prédio antigo desses que a porta vai direto pra rua, um corredor escuro com um único elevador de treliças de ferro que rangiam suplicando manutenção, me senti dentro de um filme de terror daqueles em que o elevador está prestes a cair e mesmo com aquela sensação ruim me encorajei e subi.
Desci no andar indicado pelo endereço e encontrei uma sala aberta com cinco garotas aguardando atendimento, todas beirando a mesma idade que eu.
Um homem bem arrumado nos recebeu educadamente, distribuiu um formulário para que o preenchêssemos com todos os nossos dados, aquela coisa de praxe, nome completo, idade, endereço experiência enfim, em seguida nos chamou para uma entrevista particular dispensando uma a uma das meninas até que chegou a minha vez. Minha entrevista foi tranquila e depois de muitos elogios e algumas justificativas fui admitida.
Quando a pessoa precisa de um emprego ela não presta muita atenção nos detalhes e eu ingenuamente não prestei nenhuma atenção simplesmente concordei em começar a trabalhar naquele mesmo dia da minha apresentação até que chegou a hora do almoço.
O dito cujo do cidadão antes de sair segurou bem forte em minha mão e num tom de galã de fotonovela barata se despediu com um malicioso : "já volto, tá !"
Foi aí que a minha ficha caiu, enrubesci de ódio, tão logo ouvi o barulho do elevador descendo, invadi sua sala, vasculhei as gavetas ate encontrar a minha ficha, rasguei-a em pedaços minúsculos, e saí de lá correndo jogando a chave por debaixo da porta.
Caminhei apressada pelas ruas da cidade e só depois quando me vi em segurança é que minhas pernas começaram a tremer aos poucos fui tomando consciência de tudo que aconteceu, primeiro fiquei com muita raiva de mim por ter caído em tamanha cilada, depois me senti envergonhada, tão envergonhada que nunca falei sobre este ocorrido com ninguém, nem da turista lusitana perdida no centro da cidade muito menos do assédio daquele ser repugnante, mas como tudo na vida é experiência decidi que emprego por classificado no centro de São Paulo, eu hein ! Nunca Mais !!!!
E foi Nunca Mais Mesmo !!!!
Chamava-se "Guia de Ruas de São Paulo e seus Municípios" embora na minha humilde opinião devesse chamar "Guia de São Longuinho" pra gente poder dar três pulinhos quando estivéssemos perdidos e nos acharmos rapidinho somente com a ajuda do Santo e de mais ninguém.
As suas dimensões era do formato de uma agenda, não muito grande mas bastante volumoso, no índice constava o CEP, o nome das ruas em ordem alfabética, o Bairro e seguia também as coordenadas com letras e números pra gente poder se localizar dentro do mapa cujas páginas se interligavam numa cartografia minuciosa com letras minúsculas, achar determinada rua era tarefa demorada que exigia atenção, tempo, paciência e zero grau de miopia.
Bom, naquela época eu andava á procura de emprego, e encontrar propostas honestas e atraentes no jornal era como achar agulha no palheiro até que folheando o periódico de domingo me deparei com um classificado que me chamou bastante a atenção, recortei o anúncio com a tesoura e fui procurar no "Guia" o tal endereço anotando-o num pedacinho de papel.
Saí de casa na segunda-feira de manhã bem cedo, cabelo liso bem penteado, sapato de salto pra alongar a silhueta, trajava um vestido azul clarinho lindo cujo comprimento abaixo do joelho atestava minha decência, pouca maquiagem e munida de coragem, determinação, RG, CLT e o endereço do escritório que anotei no dia anterior.
Acontece que o centro velho de São Paulo pra quem pouco ou nada conhece se torna um grande labirinto e eis que me perdi, sim estava literalmente perdida e extremamente envergonhada pra pedir qualquer informação. Pra mim era inadmissível que uma paulistana como eu não conhecesse sua cidade natal, foi aí que tive a brilhante ideia em me fingir de "Turista Perdida no Centro" e arrastando um sotaque lusitano pedi informação para algumas pessoas que passavam, não sei se minha atuação foi convincente o que sei é que fui cordialmente atendida, consegui me localizar e retomar o meu caminho com rosto fervendo pela vergonha e a cara de pau de ter feito tamanho fingimento, mas vergonhas à parte, cheguei no endereço da vaga pretendida.
Era um prédio antigo desses que a porta vai direto pra rua, um corredor escuro com um único elevador de treliças de ferro que rangiam suplicando manutenção, me senti dentro de um filme de terror daqueles em que o elevador está prestes a cair e mesmo com aquela sensação ruim me encorajei e subi.
Desci no andar indicado pelo endereço e encontrei uma sala aberta com cinco garotas aguardando atendimento, todas beirando a mesma idade que eu.
Um homem bem arrumado nos recebeu educadamente, distribuiu um formulário para que o preenchêssemos com todos os nossos dados, aquela coisa de praxe, nome completo, idade, endereço experiência enfim, em seguida nos chamou para uma entrevista particular dispensando uma a uma das meninas até que chegou a minha vez. Minha entrevista foi tranquila e depois de muitos elogios e algumas justificativas fui admitida.
Quando a pessoa precisa de um emprego ela não presta muita atenção nos detalhes e eu ingenuamente não prestei nenhuma atenção simplesmente concordei em começar a trabalhar naquele mesmo dia da minha apresentação até que chegou a hora do almoço.
O dito cujo do cidadão antes de sair segurou bem forte em minha mão e num tom de galã de fotonovela barata se despediu com um malicioso : "já volto, tá !"
Foi aí que a minha ficha caiu, enrubesci de ódio, tão logo ouvi o barulho do elevador descendo, invadi sua sala, vasculhei as gavetas ate encontrar a minha ficha, rasguei-a em pedaços minúsculos, e saí de lá correndo jogando a chave por debaixo da porta.
Caminhei apressada pelas ruas da cidade e só depois quando me vi em segurança é que minhas pernas começaram a tremer aos poucos fui tomando consciência de tudo que aconteceu, primeiro fiquei com muita raiva de mim por ter caído em tamanha cilada, depois me senti envergonhada, tão envergonhada que nunca falei sobre este ocorrido com ninguém, nem da turista lusitana perdida no centro da cidade muito menos do assédio daquele ser repugnante, mas como tudo na vida é experiência decidi que emprego por classificado no centro de São Paulo, eu hein ! Nunca Mais !!!!
E foi Nunca Mais Mesmo !!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário