A Vida de Casada da Jovem Daia (Vó Felicidade)
Logo após o casamento Zé Coelho montou em seu (novo) cavalo levando a jovem Daia na sua garupa, esta por sua vez carregava consigo apenas o que lhe cabia, uma trouxa de roupas e alguns pertences. Ambos se embrenharam mata adentro até chegarem na cabana construída por Zé. A cabana era precária, próxima do garimpo, rodeada de árvores em um terreno de mato alto, mal se podia ver o sol. Imagino como tenha sido difícil pra minha vó aqueles primeiros dias encarando tão dura realidade.
Pela manhã antes de sair para garimpar Zé Coelho entregou a Daia uma garrucha velha munida apenas de um tiro com a seguinte recomendação : "Se mexer atire, seja homem, seja bicho, atire !".
Enquanto Zé Coelho se ausentava dona Felicidade usava seu tempo para limpar o terreno com um facão afim de que pudesse ver e aproveitar a luz do sol para colocar ordem na "casa".
Nesses primeiros anos em que viveram neste lugar, não sei precisar se dona Felicidade já exercia o ofício de costureira, profissão que a manteve até o final de sua vida, eu, particularmente, acredito que não, dado o isolamento em que se encontravam, talvez, a costura como profissão, tenha vindo anos mais tarde quando se instalaram na cidade.
Dessa fase tenho conhecimento apenas a data de nascimento dos seus dois filhos.
Em 1.934 nasceu o primogênito, José Oliveira Coelho Júnior (homenagem ao pai Zé Coelho) e com dois anos de diferença em 1.936 nasceu o segundo filho, Virgílio Coelho Neto, nome dado em homenagem ao seu avô paterno, seu Virgílio Coelho.
Do nascimento do primogênito, tio Zequinha, como o conhecíamos, não tenho registros mas, quanto ao nascimento de meu pai algumas histórias pitorescas nos foram confidenciadas por minha vó Felicidade.
História sobre o Nascimento de meu pai : Virgílio Coelho Neto.
Dizia ela que às primeiras contrações anunciando que o bebê estaria por vir, pediu ao marido Zé Coelho que fosse a cidade buscar uma parteira, este por sua vez, a caminho da missão, acabou se distraindo na caça por um tatu. Horas mais tarde voltou a cabana com a parteira e o tatu abatido em uma sacola. Dona Felicidade já havia dado a luz, ela própria cuidou de fazer seu parto preparando os apetrechos que iria precisar, inclusive uma tesoura velha para cortar o cordão umbilical. Coube a parteira apenas verificar se tudo havia sido feito do modo correto. Enquanto isto Zé Coelho extraia do tatu o seu sangue e com ele besuntou a criança envolvendo-a em panos que foram retirados somente no dia seguinte. Para surpresa de todos o sangue havia penetrado na pele do bebê. Este fato curioso fortaleceu a pele de meu pai e por muitas vezes o presenciei batendo forte no braço e dizendo orgulhoso : "Aqui não pego doença alguma, tenho sangue de tatu !" E realmente, meu pai era forte como um touro.
Outro fato curioso diz respeito ao seu registro de nascimento. Como moravam distante da cidade, registrar uma criança demandava disponibilidade e algum tempo. Quando Zé Coelho foi registrar o filho não soube precisar a data, registrando-o no dia 6 de agosto do ano de 1.936 sendo que a data correta seria dia 8 de agosto do mesmo ano 1.936. A pedido de minha vó, minha mãe ficou incumbida de jamais esquecer a data verdadeira do seu nascimento, por isso todos os anos, nós, os filhos e minha mãe, o cumprimentava tanto no dia 6 quanto no dia 8, o que alegrava muito meu pai.
.........continua........