terça-feira, 19 de maio de 2020

"Carta para Theo - Quarentena"

Oi Theo,

Já tem um tempo que não nos falamos, como você está ?
Espero que estejas bem.
Eu ando bem comportada também. Reflexo desta quarentena que nos obriga a ficar em casa.
Obrigar é o modo de dizer né Theo, ninguém nos obriga a nada, tudo é uma questão de consciência e bom senso e eu ando lá fazendo a minha parte.
Sabe Theo andei pensando e concluí que não sou uma pessoa difícil de conviver, e acredite não é falsa  modéstia porque é verdade. Sou paciente, prestativa, trabalhadeira, não faço cobranças, não tenho ciúmes, sei dividir, esperar, não sou intrometida nem inconveniente, procuro ser bem humorada enfim.... quer casar comigo Theo ?! Acabei de fazer uma propaganda e tanto das minhas qualidades, mas tenho defeitos também, sou intolerante e chata com certas bizarrices que me incomodam, falo o que penso e na maioria das vezes atropelo e acabo ofendendo, enfim... quer desistir agora Theo ? Põe na balança vai ver que as qualidades são bem maiores em compensação os defeitos são bem mais pesados e olha que nem elenquei todos.
Theo estou vivendo um momento de paz e não que a paz me assuste, não é isso, é muito bom ter e viver em paz mas tenho questionado as razões, acredito que em partes essa "paz" deva-se a quarentena a qual estamos submetidos.
*As vezes tenho medo de falar o que penso Theo, e quando falo em medo fico me perguntando medo de quê ou de quem, não é medo que alguém leia além de você talvez seja medo de eu própria me ouvir ou de achar amanhã que exagerei e não ser nada disso. (respiro fundo)
Em outra época Theo alguns termos e assuntos eram tabus, ninguém falava de assédio moral violência sexual, muitas mulheres sofriam relacionamentos abusivos sem ao menos se questionar porque existia um "normal" velado e travestido de certo porque homem tem que mandar e mulher tem que obedecer.
Acho que já deu pra perceber onde quero chegar não é Theo ?
Nunca fui agredida fisicamente mas também não nego que dentro do meu relacionamento houve enfrentamentos  bastante tenso, mas existem outros tipos de agressão não física que deixaram marcas, não vou classificar de assédio moral porque também não é isso, nunca deixei que ninguém me reduzisse ou rebaixasse, devo isso a minha postura o fato de ter estudado e sempre ter trabalhado, esta independência financeira junto ao fato de ter uma família que sempre me apoiou foram fatores fundamentais para elevar minha autoestima, mas não queria desviar muito do assunto, é tão difícil nominar, acho que a palavra mais adequada é controle e possessividade enrustidas em frases do tipo :"eu confio em você não confio nos outros", "se cuida", "eu quero o seu bem", "essa roupa tem que trocar", "porque demorou", "fico preocupado com você".... e tantas outras frases que ouvi e que por hora já nem lembro mais, é Theo, ao mesmo tempo que fiquei inconformada e esbravejei foram outras tantas em que me calei, aceitei e obedeci. Por favor Theo não se penalize de mim, já passou e eu sobrevivi. Hoje em dia tudo mudou para melhor, acho que o tempo ensina, amadurece nos conscientiza, hoje a convivência é harmoniosa e equilibrada nas aparências e de fato, mas aí é que entra um dos xis dos meus questionamentos. Estamos em quarentena e não tenho me dividido com nada nem com ninguém, não há família, mãe ou filhos que me ocupem, estou exclusivamente vivendo em função desta nova rotina que se estabeleceu. Nos damos super bem, conversamos, cuidamos da casa do jardim dos nossos pets, estamos juntos literalmente e de verdade não está ruim, estou em paz....estamos em paz (sou boa na convivência, lembra ?)
 **Precisava falar contigo sobre outros fatos que sucederam pós reveillon mas que não vem ao caso neste exato momento, outra hora falo sobre eles, hoje só queria dizer o que disse, sem muita razão pra tê-lo feito, como diria meu companheiro "o que passou passou você está procurando pelo em ovo, fica remoendo e amargurando, precisa aprender a ser feliz, olhe pra frente". Será mesmo Theo que eu não sei ser feliz ? Qual a relação do meu passado com o meu presente ? Deixo pra pensar nisto depois, as vezes é melhor não pensar apenas viver. Obrigada Theo por me ouvir. Vamos nos falando !
 Até !

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