terça-feira, 21 de julho de 2020

"Foi Assim...."

....quando o ginecologista me encaminhou para o oncologista fiquei sem chão, como se um buraco enorme houvesse me engolido, naquele momento pensei estar levando minha sentença de morte anexada ao encaminhamento.

Marquei a consulta e, feito criança no seu primeiro dia de escola, fui acompanhada pelo meu pai e minha mãe.

Já reparou como funciona corredor de ambulatório ? Fica um monte de gente esperando a vez para se consultar e em enquanto isto não acontece as conversas giram em torno do mesmo assunto : doenças.

Pra falar a verdade não gosto nem um pouco de dar trela nestas situações mas, minha mãe é expert  no assunto e, aquela especialidade é um prato cheio de desgraças, é assunto pra eternidade.
Eu odeio ouvir porque sou altamente sugestionada e acabo filtrando tudo o que não presta. Exemplo, se a pessoa diz que era apenas uma bolinha atrás da orelha e quando foi ver não era algo bom, fico com aquela informação armazenada no meu cérebro e todas as vezes que "eu achar" que tenho uma bolinha atrás da orelha vou lembrar daquele filtro e "achar" que sofro do mesmo mal, aliás meu problema são os "achismos".

Bem, fato é que fiz a consulta e descobri que oncologista não é um bicho papão e a partir de então comecei a ir sozinha nas consultas.

Neste dia estava só, entrei no consultório e expliquei-lhe que sentia dor e desconforto no seio direito, ele analisou a mamografia numa caixa de luz e disse-me que não havia nada de errado, insisti sobre a dor foi quando me comunicou que faria um exame de toque.

Acho que só quem é mulher sabe o que é passar por tamanho constrangimento, é vergonha misturada com medo, ansiedade e necessidade, uma sensação muito desconfortável de impotência que exige total confiança no profissional que a executa.

Sempre confiei no meu médico e mesmo envergonhada fiz o que ele me que pediu sentei na maca, tirei o sutiã e fiquei segurando minha blusa escondendo meus peitos até que ele se aproximasse.

Meus olhos acompanharam todos os seus movimentos, levantou-se da cadeira, lavou as mãos numa pia, secou-as com papel toalha e as friccionou ao se aproximar, pediu-me que ficasse ereta com as mãos na cintura e assim fiquei, ereta com as mãos na cintura, cabeça jogada pra trás e os olhos fixos no teto pra não ter que encará-lo, morrendo de medo e de vergonha, minutos cruciais e intermináveis, começou a me apalpar com a ponta dos dedos em movimentos circulares ao redor da mama, examinou a primeira, examinou a segunda, ainda com os olhos fixados no teto senti que seus dedos passaram despercebidos sobre o local que sentia a dor, foi quando alardeei imperativa : "é aí, volta !" e ele voltou, apalpou mais um pouco e interrompeu o exame com a seguinte frase : "isto é diferente, é um nódulo, vamos operar" fiquei atônita e enquanto me recompunha ele foi preenchendo alguns papéis e me explicando todo o procedimento.

Resumindo o desfecho desta história, fiz a minha primeira cirurgia de mama cujo resultado da biópsia foi benigno e aproveito para esclarecer o por que me ocorreu este assunto agora : ando sentindo dor num local muito específico do meu corpo e ontem na hora do exame a médica que o fez também passou despercebida, mas o meu medo não sinalizou nem pediu a ela que voltasse e hoje estou bastante arrependida de não tê-lo feito.

Ah, sei lá ! Só pensamentos bobos e lembranças ruins....só preciso acreditar e me convencer que está tudo bem.














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