quinta-feira, 15 de junho de 2017

"Robalo o Jarro"

Esta não é mais uma "história de pescador", como tantas contadas por aí, é a minha história; e por não ser pescadora , apenas testemunha dos fatos, peço-lhes que acreditem na veracidade da mesma.
Nosso afilhado Fábio, empolgado em pescar pela primeira vez, veio ao nosso encontro em Solemar.
Sua ansiedade era tamanha, que ao menos quis esperar seus pais para vir de carro com eles, e acabou chegando de ônibus com um dia de antecedência; devidamente paramentado, carregando suas "tralhas de pesca" novinhas em folha.
Tão logo chegou, abriu afoito a maleta, disposto a montar o equipamento que consistia em uma simples vara de pesca, um molinete, linhas, chumbos e alguns anzóis. Conversava animado e ansioso, montando a vara com as instruções do padrinho; este sim, um pescador experiente.
Preparados para seguir adiante, se posicionaram em frente ao mar e novas instruções foram repassadas : como prender a isca no anzol, adentrar nos canais, fazer o arremesso corretamente, retornar a beira da praia e aguardar...pacientemente, aliás essa é uma virtude de todo bom pescador: a paciência.
Eis que logo no primeiro arremesso, Fábio marinheiro de primeira viagem, sente uma fisgada e um repuxo forte em sua linha, e com muita dificuldade e com a ajuda do padrinho, começaram a carregar a carretilha, dividindo aquele momento de pura emoção.
Os minutos se estendiam e o esforço acelerava o coração, até que.....eis a surpresa, um peixe, sim , um peixe enorme, valente, nobre, gigantesco, um robalo de aproximadamente dez quilos.
Era o último final de semana das férias, praia lotada, por isso a aglomeração foi inevitável, a curiosidade das pessoas geravam salvas, suspiros e flashs das máquinas fotográficas.
Os pescadores mais experientes não podiam acreditar que um novato havia tirado a sorte grande, foi um tremendo alvoroço.
Foi assunto pra noite inteira e o peixe mal cabia na geladeira.
Essa "história de pescador" poderia terminar aqui, mas não estaria completa sem narrar o que veio a seguir:
Os pais de Fábio chegaram no dia seguinte, domingo, e são surpreendidos com as novidades, admiram o peixe ainda fresco e as fotos que foram tiradas, registros da inusitada aventura.
O clima de alegria era contagiante e faltou limão para uma caipirinha. O bar mais próximo ficava quatro ruas adiante. Enfrentando um sol escaldante e um areião extenso a lhe queimar os pés, lá volta Fábio com a sacola de limões e um jarro de cerâmica vermelha que encontrara pelo caminho.
Estudante de medicina e cético, lá estava ele, barrado por mim no portão, segurando o jarro de "macumba" na mão, e impedido de entrar com aquele objeto que não lhe pertencia. Indignado, cheio de razões, zombava das opiniões alheias causando controvérsias. Incrédulo, sorria, justificando que tudo não passava de uma grande bobagem.
Todos falavam ao mesmo tempo, e o alertavam para a possível falta de sorte que eventualmente pudesse lhe abater.
Enquanto a discussão se acalorava, o time do coração "Palmeiras", que até então ganhava a partida, começa a perder de virada. Culpa de quem?!!! Dos espíritos que queriam o jarro de volta.... e entre gozações e muitas risadas, eis que por um descuido, o pai de Fábio "deleta" todas as fotos que registravam a pesca do robalo.
Foi a gota d'água.
Quem acreditava ou desacreditava não importava mais, o fato é que o jarro tinha que ser devolvido a esquina em que fora "surrupiado", e assim foi feito.
Mas havia um outro problema, como recuperar as fotos perdidas.
Corremos ruas e praia a procura de alguém que pudesse nos dar uma prova da extraordinária pescaria.
Como disse era fim de férias e a maioria das pessoas já haviam retornado, e foi graças ao filho de um dos pescadores veteranos que se comprometeu a nos enviar por e-mail uma única foto,  assim nossas esperanças foram renovadas.
Aguardamos por dias , desiludidos, acreditando que aquela aventura ficaria apenas em nossa memória, por fim a foto chegou.
Ah! se o Fábio não tivesse "Robalo o Jarro", não estaria contando essa história, por isso deu no que deu.
História de pescador ? Sim, mas verdadeira, viu?! Olha aí a prova :
O pescador sortudo Fábio Teixeira Auricchio ,o Robalo de 10 kg e o padrinho Edrovandi Rivadávia.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

"O Prato Azul"

A casa de Solemar teve várias fases. A Primeira me remete a 1ª infância , era tudo tão rústico e tão simples , o lugar tão perdido no mundo , mosquitos , pernilongos, borrachudos ....lembro do vô Silvano a caminhar pelas ruas fazendo fogueiras inofensivas com mato seco para espantá-los. Apelidaram-no de Nero (rsrsss).
A nossa casinha então ?! pobrezinha , e muito simples , percebendo hoje , que isso a tornava tão especial. Os azulejos do banheiro com os desenhos todos desencontrados , a maçaneta da porta era torta e virada para dentro ( ficávamos olhando aquilo e nos perguntando : como o Vô conseguira fazer tal proeza ?) , a mesa da área era de alvenaria revestida com cacos cerâmicos vermelhos devidamente encerada e lustrosa. Tudo feito pelas mãos do saudoso Vô Silvano , tadinho, o vô não tinha a técnica , apenas boa vontade e muito muito amor em fazer.
Então tudo que era descartado em SP tinha destino certo : " a casa de Solemar ". A travessa lascada , a panela sem tampa a outra sem cabo , os talheres eram literalmente avulsos e os pratos cada qual de um jogo diferente.
Aí lembrei do prato azul , o meu preferido , porque quando terminava de comer eu via aquela paisagem tão linda ....olhar de menina , sabe?!
Saudades de tudo e de todos que ainda hoje povoam as minhas mais doces lembranças......