quinta-feira, 9 de setembro de 2021

 Oi Theo !

Acordei antes de amanhecer pensando em você.

Faz tempo que não escrevo e nem leio absolutamente nada; ando em fuga, de quem ? ou do quê ? Não sei responder, fujo dos meus pensamentos, não quero pensar e os trabalhos manuais me ajudam muito a não pensar; me distraio com eles e assim o tempo passa.

Andei pensando na minha bisavó Emília, vó da minha mãe, tive o prazer de conviver com ela até a minha pré adolescência, ficaram algumas lembranças e nem sei por qual razão essas lembranças vieram à tona.

Minha vó era uma pessoa muito especial, assim dizia minha mãe que conviveu toda sua infância aos seus cuidados, sei mais das histórias que minha mãe contava do que as histórias que propriamente vivi.

Dia desses lembrei de uma brincadeira que ela fazia com as crianças, sentávamos no chão à sua roda e pousávamos nossas mãozinhas pequenas em seu colo; com sua mão de adulto enrugada pela velhice ela percorria ligeiro pelas nossas ritmando a seguinte canção :

"...varre varre vassourinha

varre bem esta casinha

pra que sim para que não

pra senhora da Assunção..."

Depois deste versinho o movimento mudava, agora ela dava pequenos beliscões em nossas mãozinhas entoando outro verso :

"...salta pulga na balança

o piolho á picar

diz o rei para a rainha

vai no mar buscar grainha

para o filho do Luís

que está preso pelo Naaaa.....rizzzzz !!!"








Quando chegava nesta parte do nariz ela pegava o nosso nariz pequeno entre os dedos e assim escondíamos a mão correspondente ; e a brincadeira se repetia até que sobrasse apenas uma mãozinha em seu colo, dando vitória ao último que escapara da beliscada do nariz....rsrsrsss

Que lembrança boa ! Ser criança, ter irmãos, primos da mesma idade e ter uma bisavó velhinha que se dispusesse a brincar com a gente !

Minha bisavó era portuguesa, nasceu no final de 1.800, sua primeira filha, minha vó, nasceu em 1915 e tive o prazer de conviver com ambas por longos anos, já que morreram bem velhinhas.

A vó Emília se vestia de preto, não se via nada além das mãos brancas e do rosto, eram muitos saiotes e saias, meias e mangas compridas, lenço de cetim com uma estampa bem discreta para cobrir os cabelos brancos que eram finos, ralos e longos sempre preso com uma trança que se enrolava formando um birote; fecho os olhos e vejo a vó Emília cuidando da horta e com seu sotaque lusitano nos chamando "anda cá !"....

Era respeito, era cuidado, era amor...tanto, tanto, tanto amor !


PS. Theo eu volto a escrever...juro que volto !