domingo, 28 de janeiro de 2018

"Oi"

Oi pra você que chegou até aqui.

Não sei nada sobre você que ao contrário já sabe um tanto de mim.

Estou postando pequenos textos que falam sobre mediunidade.

São relatos de momentos que vivenciei.

Deixo claro que aqui estão as minhas particulares impressões.

Não precisamos concordar apenas nos compreender e respeitar.

Obrigada.

Silvia.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

"Mediunidade Xlll - Conclusão"

Pensei nas coisas que me foram ditas, nos livros que li, nas experiências que vivi e cheguei a seguinte conclusão:

Existo.

Sou filha de meu pai com minha mãe.

Sou única.

Tenho essa vida pra viver e já passei da metade que me resta.

Inevitavelmente morrerei.

E o mundo vai deixar de existir.

Serei lembrança aos que me conheceram.

E nada quando estes também se forem.

A noite virá e outro dia amanhecerá.

A natureza é viva porque se renova.

Ninguém controla a natureza

Haverá sol, chuva, neve, terremoto, furacão...

Vou usufruir da vida o que dela vier.

Serão as minhas escolhas.

Meu espírito é minha consciência.

Me auto denominar nem pensar, simplesmente porque como disse antes sou única e não me encaixo em nenhum molde em nenhuma casinha.

A morte pra mim é o nada.

E nada é nada.

Simples assim.


Fim.

"Mediunidade Xll - Respostas"

Não comentei a mensagem psicografada porque achei melhor assim.

Sempre é bom ter um tempo para reler e refletir.

Foi exatamente o que fizemos, refletimos.

Admito que não reconheço meu pai naquelas palavras, que por sua vez tinha uma opinião muito clara e oposta ao que foi dito, mesmo assim aquela carta com a mensagem psicografada nos ajudou no sentido de acalmar nosso sentimento de revolta e indignação com a perda estúpida de meu pai.

Quando comecei a falar sobre esse assunto "mediunidade" meu objetivo era tentar explicar a minha falta de crença, o meu ceticismo com relação a tudo que me cerca nos dias atuais.

Sempre quis acreditar em algo e sempre busquei conhecimento pra ver se me encaixava em alguma religião.

Busca inútil, pois não me encaixei em nenhuma delas.

As respostas que obtinha eram tendenciosas voltadas para os credos que as defendiam, e não tinham para mim, nenhuma lógica.

Então busquei as respostas dentro de mim.

O cérebro do ser humano tem um poder incrível, tem coisas que a psicanálise explica, outras estão ainda por ser estudadas e explicadas tal a complexidade da mente humana.

Penso que todo e qualquer "fenômeno" vivenciado por mim, foi produto de um querer superior a minha razão, por isso aconteceu, pelo fato de ter querido muito.

Por isso a resposta é : "eu quis, quis tanto que inconscientemente fiz com que acontecesse, foi a maneira que meu cérebro encontrou para me resguardar daquele sentimento de dor que tanto me afligia".


(continua)














quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

"Mediunidade Xl - Mensagem Psicografada"

Era madrugada e fomos recebidos com um café da manhã muito simples.

No local haviam pessoas com o mesmo objetivo: receber uma mensagem psicografada.

Fizemos uma triagem com o próprio médium, explicamos a tragédia resumidamente, saímos de sua sala e fomos aguardar no salão maior, onde centenas de pessoas também aguardavam.

O médium se posicionou ao lado de seus assistentes quando começou o processo da psicografia, sentado com uma das mãos apoiada nos olhos enquanto a outra escrevia incansavelmente.

 Foram quase duas horas na mesma posição quando o processo finalizou.

Um solo de violão muito suave fazia fundo enquanto as mensagens eram lidas em voz alta.

 De cabeça baixa, olhos fechados e de mãos dadas à minha mãe e ao meu irmão, ouvimos cada uma delas até que por fim a tão desejada mensagem acelerou nossos corações, as primeiras  palavras proferidas que nos identificavam fez com que nossas mãos se apertassem e unidos pela dor e emoção choramos.

Eis a mensagem :

" Querida Ayda,

Querida esposa e filhos amados, o Senhor seja louvado.
Ayda, não se sinta culpada pelo que houve, insistindo para que eu descesse com a finalidade de guardar a caminhonete. Quem de fato poderia imaginar que aquela hora da tarde viéssemos a sofrer um assalto em nossa própria casa, com consequências inesperadas ?
Quando me vi diante daqueles dois meninos, que me apontavam uma arma, pensei que pudesse intimidá-los com palavras e cometi o equívoco de me identificar; mal, no entanto, declinava a minha condição de policial militar da reserva, senti o impacto do projétil a altura do peito e cai sem esboçar a menor reação. Em rápidos minutos a minha existência inteira desfilou diante dos meus olhos como, se uma introspecção profunda, nunca realizada por mim, me levasse a analisar os menores fatos da existência que estava chegando a termo.
Tudo, querida Ayda, me acontecia ao mesmo tempo em que espiritualmente eu tentava reagir com o propósito de não deixá-los, à você, ao Reinaldo, à Silvia, à Silvana, à Silmara e ao Ricardo, os filhos que tanto amei e continuo a amar deste outro lado da vida.
Não vamos agora, cogitar de mais nada, além de uma paz familiar, precisamos ter serenidade e tocar a vida adiante com a confiança que não nos deve faltar.
Esqueçamos, ou pelo menos tentemos esquecer o episódio infeliz em que certamente eu estarei quitando débitos de pregressas existências. Sei que nunca cogitei seriamente de reencarnação, me sinto agora compelido a fazê-lo, já que digo que de fato a morte não existe, e que não alcancei o céu a que tantos imaginamos fazer jus após a morte do corpo. Vejo diante de mim uma longa estrada e sei que por ela deverei caminhar, estrada que começo e fim não posso divisar com clareza... Não pensem pois que todos sejamos chamados a viver sobre a terra a mercê do acaso e que estejamos sujeitos em qualquer idade a acontecimentos sobre os quais não tenhamos o menor controle.
Não é assim, os nossos maiores estão falando comigo em leis de causa e efeito, me recomendando dizer a vocês que tudo é consequência de tudo, de tudo que fizemos e como também de tudo que deixamos de fazer...
...Mantenhamo-nos unidos e trabalhemos o quanto possível para minimizar a violência que se engendra a partir de nossa própria indiferença social.
Antes da construção de novas penitenciárias, os nossos governantes deveriam pensar na construção de novas escolas, é inútil que a atual geração não se preocupe com as gerações futuras crendo que lograrão escapar da catástrofe que se prepara para a humanidade. Nós de hoje, somos os de ontem e seremos os de amanhã, ou seja, herdaremos de nós próprios e voltaremos a terra para sofrermos as consequências do próprio descaso, organizem-se e não derramem lágrimas desnecessárias.
Foi um balaço no coração, mas a rigor não faria grande diferença se tivesse sido uma queda, seguida de uma forte pancada na cabeça.
Queridos Reinaldo e Silvia, queridos filhos, vocês me perdoem, se não consigo uma maior autenticidade com estas palavras, entendem que eu as estou grafando com o auxílio de um cérebro que infelizmente a submete a rigoroso processo de filtragem. Digo infelizmente por enquanto, aqui gostaria de ser muito mais eu mesmo do que tenho consciência de que estou conseguindo ser, com meu amor e a minha saudade Ayda, o meu imenso carinho à você querida esposa, que não deixarei, sou sempre o seu Virgílio.

                                              Virgílio Coelho Neto"

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Mensagem psicografada pelo médium Carlos Bacelli - Uberaba, 26 de maio de 2001.



(continua)

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

"Mediunidade X -Existem Anjos ? Existem Santos ?

A pessoa que mais sofreu com a morte de meu pai foi sem sombra de dúvida minha mãe.

Todos os filhos também sofreram, mas meu irmão mais velho tinha uma relação muito estreita com nosso pai, eram amigos e confidentes e aquela tragédia o abalou terrivelmente.

Estávamos os três na busca desesperada por conforto e aquele fim de semana nos ajudou em todos os sentidos.

Quando se compartilha sofrimento e aflições com pessoas que também passaram por perdas irreparáveis parece que o coração da gente se acalma, percebemos que não estamos sós e que no mundo tem muita gente que sofre, dores físicas, dores da alma.

Interagimos com essas pessoas, visitamos os projetos sociais de Chico Xavier e de outros médiuns que residem em Uberaba, estivemos com crianças órfãs, idosos carentes, leprosos abandonados.

 Se compadecer a distância não é o mesmo que presenciar, o sentimento é diferente quando a realidade está ali escancarada na nossa frente, percebemos que as nossas dores são ínfimas se comparadas a tantos sofrimentos.

Admiro esses seres humanos especiais que dedicam sua vida a ajudar quem realmente precisa.

Existem anjos ? Existem santos ?

Existem pessoas boas que praticam o bem, pessoas que dedicam suas vidas totalmente as boas ações e isso não tem a ver com religião ou partido político, tem a ver com desprendimento, abdicação, doação, bondade.


(continua)

"Mediunidade lX - Uberaba"

Continuava minha busca desesperada pelas respostas as perguntas que me afligiam.

Foi quando surgiu a oportunidade de fazermos uma excursão até a cidade mineira de Uberaba, onde vivia o medium mais respeitado, o representante maior da doutrina espírita, Chico Xavier.

Naquela época devido a sua saúde frágil, Chico Xavier não psicografava apenas recebia os peregrinos para uma visita em sua casa azul.

Foi o segundo momento mais importante para nós, olhar nos olhos e apertar as mãos daquele ser iluminado.

Foram apenas alguns segundos de pura emoção, senti uma energia forte, positiva, marcante, parecia não ser uma pessoa de carne e osso, aquele homem simples era a personificação da bondade, humildade, caridade e fé.

Tão velhinho e debilitado lá estava ele a receber as pessoas, dizendo palavras de conforto quase sussurradas e sempre com sorriso nos lábios, não sei descrever em palavras aquele momento tão emocionante, marcante, indescritível.

Estávamos tão fragilizados que minha vontade era de abraça-lo e ficar com ele até minha dor se abrandar... chorei.

Quando saímos de São Paulo tínhamos como objetivo tentar um contato com o espírito de meu pai através de uma mensagem psicografada e haviam outros médiuns, discípulos de Chico Xavier que deram continuidade as suas obras, por isso nossa esperança era grande.

Durante o trajeto, fomos alertados para uma possível decepção, diziam que o contato com o espírito desencarnado não se fazia através da nossa vontade e sim decorrentes de uma série de fatores que independiam dela, juntava-se a isso o pouco tempo daquela tragédia, fazia apenas poucos meses que meu pai havia partido e segundo as leis do espiritismo era praticamente impossível o espírito de meu pai se manifestar, haviam pessoas que estavam viajando conosco numa quinta tentativa de obter um contato com o ente querido e sem obter sucesso algum.

Mas contrariando todas as regras algo surpreendente aconteceu....


(continua)











terça-feira, 23 de janeiro de 2018

"Mediunidade Vlll - Inconsciente Coletivo"

Saí da palestra deveras frustrada, pois não obtive as respostas que tanto queria e pra falar a verdade a palestrante não ajudou muito.

Fomos então direcionados a um grande salão onde a mesma, que havia voltado das férias, iria se pronunciar.

Fiquei assombrada com a enormidade daquele salão, parecia uma arena gigantesca, cadeiras circundavam o palco e pessoas vestidas de branco perfilavam as mesmas.

 Com muito custo conseguimos dois lugares para sentar.

Nunca em toda minha vida havia visto algo parecido exceto pela televisão, o tanto de gente concentrada naquele lugar era assustador.

De repente as luzes se apagaram, um feixe de luz iluminou um caminho e as mesmas pessoas vestidas de branco formaram um cordão de isolamento por onde passou dona Guiomar até chegar ao palco enquanto era ovacionada pelos presentes.

Observei o todo, a palestrante, os discípulos de branco, o discurso a platéia,  as pessoas pareciam tomadas pelo mesmo sentimento num inconsciente coletivo assustador.

Voltei pra casa com aquelas imagens fervilhando na minha cabeça, o que tinha sido aquilo ?

Um show ? Uma pop star ?

Meu sentimento era de desilusão e decepção.

Nunca mais pisei no Perseverança....


(continua)




segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

"Mediunidade Vll - A Palestrante"

A palestra aconteceria em uma sala pequena e consequentemente com um grupo restrito.

 Enquanto aguardávamos percebi que  todos tinham uma história triste de perda recente e todos sem exceção estavam ali em busca de conforto para alma e consolo para o coração.

Eis que surge a palestrante e fundadora do centro espírita, diziam que teríamos o privilégio de ouvi-la, uma raridade concedida a poucos.

Farei um parenteses agora e perguntarei a você leitor independente de sua religião: qual a imagem que lhe passa de uma pessoa tão bem conceituada, que só faz o bem, e que vive em função de praticar a caridade ?

Não sei você, mas na minha cabeça vem a imagem de uma pessoa humilde, bondosa no gesto e no olhar, alguém sem idade definida e com um carisma sem igual.

Pois bem ! eis que entra a digníssima.

Mulher madura, pele de seda, vestido de grife, impecável, jóias espalhadas pelo corpo, muitas jóias, anéis, pulseiras, brincos, colar, sapato fino de salto, cabelos tingidos de loiro, presos e bem penteados, nenhum fio solto ou desordenado, unhas longas e pintadas, exalava um perfume gostoso que deveria ter custado os olhos da cara, voz empostada, firme, uma mulher esguia, e embora toda montada muito longe de ser uma mulher fina, aquelas que a gente sabe ser rica de berço.

Segura e muito falante, pouco ouvia e muito falava, achei graça ao tentar convencer uma senhorinha a perdoar o marido morto após descobrir sua traição, dizia que o perdão lhe faria bem e que o espírito do marido poderia enfim descansar em paz, e não houve filha muito menos palestrante que a persuadisse a mudar de ideia e retrucava a senhorinha :"não perdoo, não perdoo jamais vou perdoar".

E assim terminou a palestra, com depoimentos muito tristes com a teimosia da senhora que saiu de lá sem perdoar o espírito atormentado do marido, e particularmente para nós, sem o mínimo avanço.

Tempos depois fiquei sabendo que antes do espiritismo a palestrante havia sido pastora de igreja evangélica, foi quando entendi o discurso a postura, enfim.....


(continua).

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

"Mediunidade Vl - Perseverança"

 O centro espírita Paz e Amor é um núcleo pequeno, um lugar muito aconchegante onde íamos toda quarta-feira, lá nos explicaram que era improvável o espírito de meu pai ter se manifestado, primeiro por eu ser inexperiente e segundo pelas próprias regras do espiritismo que diz ser totalmente impossível que um espírito consiga fazer qualquer tipo de contato em tão pouco tempo de desencarne.

Então o que havia acontecido comigo ?

Através de amigos fomos convencidos que um centro espírita maior poderia nos ajudar mais efetivamente.

Já tínhamos ouvido falar no "Perseverança" e lá fomos nós, buscar desesperadamente as "respostas".

Narrarei agora as "minhas impressões" sobre o que vi e presenciei, e que me perdoem os que discordarem de mim, pois como falei antes são as minhas particulares impressões:

"Primeiro : que loucura era aquela para estacionar ? e o que dizer daqueles ônibus fretados apinhados de gente ?

Nos juntamos a multidão, pessoas de todas as etnias e classe social, adultos, jovens, crianças e idosos.

Pessoas subjugadas a todo tipo de sorte e mazelas da vida: doentes, deficientes, especiais.

Os organizadores do evento, vestidos de branco impunham uma ordem e uma lógica no destino de cada um.

Fomos direcionados a um outro prédio onde seria feita uma palestra particular com a pessoa mais importante daquele lugar, a fundadora, a mais sábia e benevolente "dona Guiomar".

Já tinha ouvido falar muito naquele nome, e iria ter o privilégio de conhecer aquela pessoa tão venerada por todos.

Para se chegar ao local era preciso se deslocar de um complexo a outro, passando por uma rua fechada onde se vendia de tudo, pipoca, paçoca, churrasco, doce...

Fiquei impressionada,  as pessoas que estão em busca do conforto pra alma comem... sofrem e comem.... comem muito.

Constatei de perto o que já sabia de longe, em como a desgraça humana é lucrativa... me bateu uma tristeza e desilusão profunda.

Pra mim aquilo não era a visão do céu e sim a visão do inferno".


(continua).


quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

"Mediunidade V - Paz e Amor"

O que quer dizer esse "Fui atrás" ?

Primeiro não revelei a ninguém além da minha família o que ocorrera comigo, medo de ser tachada de perturbada ou coisa parecida, apenas me limitei a conversar com pessoas próximas sobre o espiritismo, e de preferência aquelas que seguiam e acreditavam na doutrina espírita.

Na verdade é muito mais fácil nos convencer de alguma coisa quando conversamos com pessoas que acreditam piamente no que estão falando.

Eu precisava muito me convencer em "acreditar".

Todos quiseram ajudar com palavras de consolo.

Ganhei o "Livro dos Espíritos " de Allan Kardec que supostamente me daria as respostas que tanto precisava.

Mas não foi isso que aconteceu,  aquela filosofia não condizia com a minha lógica.

Mesmo assim, eu e minha mãe passamos a frequentar o centro espírita "Paz e Amor".

Toda quarta-feira a noite lá estávamos a ouvir as palestras e depois tomar um "passe".

As palestras eram sempre voltadas as boas ações, em ajudar o próximo, a lei do retorno e por aí vai.

Em seguida entrávamos numa sala a meia luz ao som de uma música suave para recebermos o "passe", que consistia em emanar uma energia positiva através das mãos de um médium que percorria o nosso corpo do topo da cabeça aos pés, mas sem nos tocar, e estávamos tão abertos e receptivos que saíamos de lá nos sentindo mais leves, não digo conformados, mas propensos a aceitar o que os espíritas chamam de carma ou acertos de vidas pregressas, ou seja, meu pai e nós estávamos quitando nossas supostas dívidas.

Difícil de engolir mas no momento era o que nos fez seguir adiante.....


(continua).

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

"Mediunidade lV - Segunda tentativa"

Sabe, devo confessar que não é um tema fácil de se abordar, principalmente quando sou a protagonista desses fatos.

Mesmo assim, preciso, quero, devo e vou continuar relatando o que se deu após aquele domingo.

Fiquei confusa e sem muitas respostas, sabia apenas que algo muito forte acontecera, e quis muito acreditar que o espírito de meu pai estava desesperadamente querendo se comunicar.

Comentei com meu marido sobre o ocorrido, ele imparcial, apenas me ouviu, respeitando a minha dor, mas precisava falar com mais alguém, alguém que me desse as respostas, alguém que acreditasse efetivamente em mim.

Na terça-feira após a missa de sétimo dia da morte de meu pai, pedi aos meus irmãos e minha mãe que estivessem comigo para uma reunião.

Detalhei o que havia ocorrido no domingo e sugeri que tentássemos naquele momento de dor fazer um novo contato.

E assim foi feito.

Sentada no lugar de meu pai à mesa nos demos as mãos e unidos pelo sofrimento começamos a rezar e  tudo aconteceu aos olhos de todos, mais uma vez a caneta percorreu o papel a respiração ofegante e mais uma vez a decepção em não conseguir escrever uma única palavra.

Todos entenderam cada qual ao seu modo o que havia se passado ali.

Conversamos muito.

Continuei precisando entender aquele processo, as minhas perguntas e as minhas dúvidas precisavam de respostas.

Minha inquietude me levou a buscá-las.

Precisava saber, precisava me informar e mais que isso precisava entender.

Fui atrás.....



(continua).

domingo, 7 de janeiro de 2018

"Mediunidade lll - Primeiro contato"

Não conseguia pensar em mais nada, na minha cabeça o filme se repetia : a cena que levou a morte trágica de meu pai.

Pensei com carinho na minha infância nos momentos que passamos juntos, nas nossas diferenças nas suas crenças.

Meu pai acreditava.

Sim, ele acreditava no espírito, na vida após a morte.

E se ele acreditava por que não acreditar ?

E se realmente existisse ? Com certeza meu pai estaria desesperado querendo falar, se comunicar.

Pensei que podia... Acreditei que podia,  se tinha alguém a quem meu pai recorreria seria a mim, afinal havia sido sentenciada desde pequena como sendo aquele "ser especial".

Naquele momento o que mais queria era "acreditar".

Olhei ao redor, a agenda que transformara em diário estava próxima, peguei a caneta e abri uma página em branco.

Pousei a caneta sobre o papel, fechei os olhos, rezei, repetidas vezes, rezei, junto com a reza me dispus a estar ali para o que viesse...

Narrarei agora o que de fato ocorreu :

Muito lentamente e involuntariamente a mão que segurava a caneta começou a escrever, um formigamento tomou conta do meu braço, naquele instante parei de rezar e me entreguei totalmente, não abri os olhos, também não pensei e nem desejei abri-los, estava totalmente consciente, não perdi o sentido nem perdi a razão, apenas deixei que a caneta corresse, e ela correu cada vez mais rápido, enquanto minha respiração acelerava ofegante, a mão que formigava escrevia enquanto a outra virava rapidamente as páginas, tinha consciência plena que algo muito forte estava acontecendo ali, e acreditei que fosse realmente meu pai que estivesse escrevendo querendo falar, meus olhos permaneceram fechados, a respiração foi lentamente voltando ao normal, a velocidade da caneta sobre o papel foi desacelerando brandamente até que meu coração se acalmou por completo e pousou a caneta sobre a última frase escrita naquela agenda.

Demorei para abrir os olhos, tinha plena consciência que algo muito forte acontecera, foram várias páginas escritas e o processo foi longo, culminou naquela respiração ofegante depois aquele sentimento de paz que havia tomado conta de mim, precisava abrir os olhos e ler aquelas palavras.

Decepção.

Voltei uma a uma cada página escrita, no começo, rabiscos pequenos que foram aumentando de intensidade, tamanho e forma, rabiscos enérgicos até se reverterem lentamente em pequenos rabiscos novamente enquanto a respiração voltava ao normal, meus olhos percorreram minuciosamente cada suposta frase  tentando de todas as maneiras e posições identificar uma palavrinha qualquer, pequena que fosse, mas nada, nada além de rabiscos.

Fechei o diário e chorei, chorei muito.

Chorei porque senti a presença de meu pai ali.

Chorei porque havia fracassado.....



(continua)

"Mediunidade ll - Pisando em nuvens "

Primeiro domingo depois de quatro dias apenas da tragédia que abateu nossa família.

Acordei muito cedo após mais uma noite mal dormida, abri a porta que dava pra sacada, sentei no sofá em frente a estante, e meu olhar ficou perdido entre os livros e a paisagem  silenciosa daquele domingo.

A sensação do tiro à queima roupa percorria minha espinha, era um arrepio inexplicável, sentia uma desilusão misturada com um desespero amordaçado, preso, imóvel, encolhido.

Minha cabeça estava oca, um vazio de imensidão, parecia que estava em queda livre, caindo, caindo, caindo sem jamais chegar ao chão.

Me sentia pisando em nuvens, nada era concreto, nada fazia sentido.

Não havia espaço para nenhum outro sentimento, não conseguia sentir ódio, era tão somente tristeza profunda.

Era difícil acreditar e mais difícil ainda me conformar.

Pensei no meu pai, em como tudo havia acontecido.

O que se passara na sua cabeça no exato momento quando ele percebeu que não haveria mais volta ?

O que ele pensou ? O que ele sentiu ?

Lembrei do rosto de meu pai no caixão, seu semblante não era sereno e muito menos contraído de dor, não, não era, seu semblante era de surpresa, aquela cara que fazia quando não acreditava em alguma coisa, parecia que ele estava dizendo "puta merda levei a pior".

A imagem de meu pai no caixão, a cena que levou a tragédia, as perguntas sem respostas, tudo me angustiava e deixava o frio na espinha mais forte e congelante, meu estômago vazio me causava náuseas, não era ódio daquele infeliz que atirou, era angústia profunda como jamais havia sentido em toda minha vida.

(continua)

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

"Mediunidade l - Preto Velho"

Bem ! acho que a maioria das pessoas tem a vaga noção do que é ser "médium".

Para os espíritas e aos que acreditam "médium" é a pessoa que tem a sensibilidade e a facilidade em manter contato com os dois mundos: do plano real com o plano espiritual.

Essa crença conforta o coração da gente, por isso as vezes é tão bom acreditar que a vida não acaba aqui, que a vida continua seja lá onde for.

Quando meu pai faleceu quis muito acreditar que ele havia partido desse mundo para um mundo melhor, foi a maneira que encontramos para aliviar minimamente aquela dor dilacerante.

Sou de uma família com crenças diferentes.

Minha mãe católica não praticante e meu pai espírita com todas as vertentes : umbanda, candomblé e todas as outras que acreditam no espírito.

Eu e meus irmãos fomos batizados, crismados, fizemos a primeira comunhão, nos casamos, tudo nos moldes da igreja católica, mas a influência do meu pai sempre esteve presente na nossa formação.

Mesmo minha mãe, católica não tão fervorosa, acompanhou meu pai nos seus trabalhos espirituais.

E foi por ocasião de um desses "trabalhos" que segundo me contaram foi o meu primeiro contato com esse tal "mundo desconhecido".

Era criança pequena mal sabia falar, quando quiseram me colocar no colo de meu pai que já estava incorporado, me agarrei assustada aos braços de minha mãe que tentava me convencer que era o papai, e eu dizia que não, que era preto com cabelo de algodão. Meu pai incorporava o "preto velho", e ali me sentenciaram como um "ser de sensibilidade ao mundo espiritual".

Ouvi essa história inúmeras vezes, e tantas outras estive presente nos tais trabalhos sem jamais ter visto nada além daqueles rituais tão bonitos.

Ali tudo me encantava, o batuque as roupas brancas que rodopiavam ao som daquelas músicas ritmadas, era um espetáculo bonito de se ver, nada além disso.

Nos anos que se seguiram mantive distância dos dois credos, tanto da minha mãe quanto do meu pai.

Mas algo surpreendente aconteceu quando meu pai faleceu.

(continua).