terça-feira, 31 de março de 2020

"Meus Oito Anos"

"Oh ! que saudades que eu tenho da aurora da minha vida da minha infância querida que os anos não trazem mais ! ...." (Casemiro de Abreu).

Saudades de ouvir a voz da mãe ralhar....

"Vai ter Baile ?!" (cutucando o nariz com o dedo).

"Não vai arder mas se arder, Assopra !" (na hora de passar o merthiolate na ferida).

"Dá pra plantar um pé de feijão aí !" (sobre a orelha suja).

"Alguns gostam dos olhos outros preferem a remela !" (sobre preferências e gosto).

"Pode comer, o que não mata faz engordar !" (o teco da comida que caiu no chão).

"Se vira ! Quem não tem cão caça com gato !" (qualquer situação que exigisse criatividade).

"Menina ranheta, assoa este nariz !" (resfriado, nariz escorrendo).

"Isto não é nada, antes de casar sara !" (sobre as manhas e choradeiras).

"Se cair, do chão não passa !" (sobre as artes e estripulias).

"Se tem, tem, se não tem, passa sem ! (sobre se conformar).

Eita, infância feliz !

Salve todos os germes e bactérias que adquiri !

Graças a eles fabriquei meus anti-corpos !




segunda-feira, 30 de março de 2020

"Bom Dia Mundo!"



Como vão as coisas ?!

Com certeza ainda continuas doente.

Mas pense positivo.

Em breve tudo isto vai passar.

E você vai sarar.

A maior parte da população está colaborando, seja por medo, pânico ou conscientização.

Cada um fazendo sua lição de casa "em casa".

Nos informando e nos precavendo tudo vai dar certo.

Precisamos ter paciência.

Assisto aos noticiários no máximo duas vezes por dia, fora isso vou me ocupando com outras coisas mais prazerosas.

Escrever é uma delas.

Ontem a noite achei um texto antigo não publicado, parece uma crônica, relata um fato da minha infância que vivi repetidas vezes.

Estou trabalhando nele.

Isto me diverte, me ocupa, me distrai.

Bem, é isso.

Mais tarde eu retorno e retomo.

Por enquanto vamos preencher a segundona atípica com nossos afazeres.

É Mundo, nunca estivestes tão uniformizado pra tanta gente !


sábado, 28 de março de 2020

"Conversa Séria"

Estamos vivendo tempos difíceis de isolamento.

As vezes me deixo contaminar pela ignorância alheia, me tornando tão ignorante quanto ou mais.

Hoje acordei mais serena, menos passional.

Fico pensando...

Toda vez que acontece um movimento em massa eu me assusto e ao mesmo tempo me questiono, não que eu queira ser do contra, sei que tem muita gente que gosta de ser do contra simplesmente por ser do contra mas não é o meu caso.

 Neste caos da saúde pública se instalou um pânico e uma histeria coletiva que dá medo, me lembra aqueles "estouros de manada" que a gente vê pela televisão. Tá todo mundo junto, aglomerado, correndo na mesma direção, num desespero que foge a razão (mesmo cada um no seu quadrado).

Todo mundo enlouquecido atrás de álcool gel, máscaras de proteção, papel higiênico aos milhões e mais recentemente o botijão de gás de cozinha.

Tudo que envolve muita gente é perigoso e se deixar levar é a pior opção, acho que tenho mais medo disso do que a própria doença em si, sem falar dos aproveitadores que surgem aos milhares neste momento de fragilidade da população, não é ético e beira a ser desumano. E como tem gente que se aproveita !

Eu ainda acredito que a informação é a melhor saída, mas sem terrorismo ou sensacionalismo.

Temos que assumir o compromisso de sermos responsáveis em todos os sentidos e não apenas compelidos por conta do "coronavírus".

Disse certa vez que se todos sem exceção cuidasse da sua calçada teríamos a cidade mais limpa do mundo, isto se aplica não somente nas calçadas mas na vida de cada um de modo geral, mas isso é tão difícil, desacredito que isto possa ocorrer um dia, simplesmente por uma questão social, comportamental.

A educação, a ética aliada ao respeito mútuo deveria ser aplicada na raiz, lá quando o bebezinho nasce, mas temos tantos poréns que nos impede dessa utopia, a começar pelos interesses, a lei do favorecimento "ôpa ! eu primeiro !" e é assim em todos os níveis e classes sociais.

Não estou dizendo que não existam pessoas boas neste mundo, sim, elas são raras e existem, mas o ser humano em geral não é desprovido do ego.

Muitas pessoas "boas" estão lá massageando seu ego na exposição das suas "boas ações".

Antes da pessoa ser médico, advogado, engenheiro, pastor, padre, pedreiro ou seja lá o que for, ele carrega dentro de si o seu "eu interior" por isso ele vai tender pra qualquer um dos lados.

Sei que não me explico direito, mas é assim que eu penso.

Ontem recebi um vídeo com o depoimento de um homem dizendo ter perdido o irmão que contraiu o coronavírus e que seu pai estava internado em estado grave, claro que numa situação desta a gente se põe lugar, se comove e se penaliza da pessoa, mas ouvir ao mesmo tempo que somos assassinos se sairmos á rua e não nos higienizarmos direito, aí pra mim já é um pouco demais, aquele meu lado duro e desconfiado aflora, daí vem os questionamentos, será que a situação penosa na qual se encontra se deu pelos dois motivos ? Foi ele o grande responsável pela tragédia que lhe abateu ?!!! Fácil apontar para os outros não é ?!

Não adianta eu não vou mudar, vou continuar me questionando sempre, porque é da minha natureza questionar.

Estou a quilômetros de distância de ser boazinha e obediente.

Só queria que tudo isto passasse o mais rápido possível, e a certeza que eu levo da lição que aprendi é que as pessoas se revelam nos momentos críticos de aflição e tenho a certeza absoluta que nada será como antes, mesmo achando que as coisas voltarão ao normal.

Igual, Normal ?!

Jamais !!!!










sexta-feira, 27 de março de 2020

"Abaporu"

Êêêê Laiá !!!!

Temos boas notícias ?!

Não ?!!!

Que tragédia !!!!

Notícias de mortos e infectados na cracolândia ?!

Não vi. Não ouvi. Procurei saber. Nada de concreto, ainda !

Deus, afaste de mim o terrorismo da mídia !

Deus, afaste de mim o terrorismo da mídia !

Deus, afaste de mim o terrorismo da mídia !

(*pra Deus ouvir temos que repetir três vezes)

Se eu não quero ouvir por que estou falando ?!!!!

Tem uns vídeos tãããoo bonitos na internet !!! Me levam as lágrimas !

E quando chegam até mim endereçados por pessoas que nunca poderia sequer imaginar que tinham tanto amor e apreço no coração... nossa ! Cadê o lençol ?! Lencinho não vai dar conta !

Em tempos de Pandemia o que mais se vê é Hipocrisia.

Espera a pandemia passar, espera pra ver !

ABAPORU - Tarsila do Amaral
Canibal- Antropófago







quinta-feira, 26 de março de 2020

"Sugestionada"

Acordei de madrugada e fiquei zanzando pela casa.

Não estou doente, mas se eu acreditar que estou infectada meu primeiro sintoma vai ser falta de ar.

Estou sim é com uma dor de cabeça desgraçada.

Reflexo dos aborrecimentos de ontem.

Não entendo por que fico remoendo certas coisas.

São os dois que menos fazem.

São os dois que acham que o dinheiro nunca é problema, que o dinheiro compra tudo.

São os dois que carregam dentro de si a certeza da "Verdade", nunca estão errados.

Cheios de rapapés e....

Caramba ! olha eu aqui de novo incomodada, depois tenho dores de cabeça e não sei por quê.

Por conta da neurose  que se instalou geral estou preocupada se desinfectei direito minha redoma de vidro.

Desinfectei ?

Estou contaminada ?

E se estiver ?

Contaminei mais alguém ?

Contaminada está minha cabeça com maus pensamentos.

Que chato isso !

Vou tentar desviar o foco.... fazer outra atividade que exija mais concentração e parar de pensar bestagem.... o quê ? Sei lá ! Quando minha cabeça parar de doer vou descobrir...


quarta-feira, 25 de março de 2020

"Desabafo"

Estamos em tempos do "corona vírus", não existe um ser humano vivente que não esteja sujeito a ser infectado, por mais esterilizado e "supostamente" blindado que esteja.
O que precisamos é de informação, conscientização e prevenção, não de histeria, porque a histeria não protege ninguém.

É fácil apontar e julgar as pessoas.

Quando estive na mãe para entregar-lhe as coisinhas da feira no sábado, tive o cuidado de vir para minha casa e, somente a tardinha, depois de banho tomado, roupas limpas, sem encostar em elevador nem em nada é que tirei meus sapatos na porta e sem nenhuma aproximação ou contato, é que deixei suas compras na cozinha e tive a ousadia de sentar-me no sofá para lhe fazer um pouco de companhia, isto sem antes higienizar bem as minhas mãos com água e sabão de coco que estava no tanque já preparado por ela mesma para isto, inclusive lavei as minhas mãos na frente dela.
Entendo o medo e a razão de vocês, por isso não vou mais lá.
Vou deixar pra vocês, Ricardo e Silmara que estão melhor preparados, informados, esterelizados, para cumprir as tarefas das necessidades de nossa mãe.
Falarei com ela apenas por telefone.
Como disse antes todos nós estamos sujeitos a esta doença. E desejo que todos nós estejamos protegidos, mas infelizmente 100% é humanamente impossível.
Fiquei chateada sim, e não vou esconder isso.
Mas tudo passa até o corona vírus vai passar.
E se algum de vocês souberem como calafetar bananas, posta na Internet, eu não sei mas tem muita gente que também não sabe, pode ser de utilidade pública.
Esterilizar bananas pode salvar vidas.
Boa quarentena para todos nós.



Esta mensagem foi enviada hoje pela manhã ao Grupo dos Irmãos via Whatsaap, depois das críticas que recebi por ter ido ao apartamento de minha mãe e tido a ousadia de me sentar no sofá.
Me pergunta se tive uma noite bem dormida ?! Não, não tive, fiquei entalada, só consegui desentalar agora. Faltou apenas o : "Vocês vão tomar no Toba !" mas como sou "educada e muito filha da puta", registro esta vontade apenas aqui....então só pra desabafar mesmo e dar aquele alívio imediato, mais uma vez :
"Vão tomar no Toba !!!!"

*as vezes eu sou muito, muito, muito ignorante.... as vezes.

terça-feira, 24 de março de 2020

"Que Porre !"

Em tempos de crise do coronavírus...

Todo mundo fazendo "Live"

Alguns fazendo piadas outros tocando o terrorismo...

Que chato isso !

É falta do quê, será ?!

As redes sociais me enervam.

Ainda temos duas semanas pela frente e nem sabemos ao certo se este tempo vai se prorrogar.

O tédio se instalou geral.

O que fazer ?!

Respirar fundo, compassar a respiração, acalmar o coração e a mente, principalmente as "doentes", insanas, vamos cantar um mantra : "Om" (Oummm)

Olhos fechados... mãos pausadas...

Buscar a nossa paz interior.... Oummmmmmm

Continua no Oummmmmmm......

Mantém o Oummmmmmmmm....

Ouça o silêncio.... Oummmmmmmmm

Melhor o tédio que o pânico,

Melhor o tédio que o pânico,

Melhor o tédio que o pânico,

Chega de "Om"...

Vamos escolher outro verbo...

Ler

Costurar

Tricotar

Escrever

Cantar

Xingar....

"Puta que o pariu !!! Quando tudo isso vai passar ???!!!"




domingo, 22 de março de 2020

"Anoitário 22/03/2020"

Não é tão tarde... assisti um pouco os noticiários pela TV, fala-se do confinamento que o mundo todo está passando. Há casas muito pequenas com um grande número de pessoas coabitando, difícil imaginar esta convivência, todos estamos isolados, confinados, é diferente não sair de casa por opção ou falta de vontade, agora sermos obrigados a permanecer sem um contato direto com pessoas próximas como nossos vizinhos, amigos e família, ah, isto sim está sendo muito muito complicado. As previsões são as piores possíveis, estou tentando não me deixar abalar e nem me contaminar pelo pânico. Pânico não leva á nada, desestabiliza emocionalmente, aí sim tudo piora. Tenho a sorte de morar em uma casa grande com jardim. Pela manhã é nele que me concentro, ah, tem o Ti, nosso passarinho "Especial", que precisa dos nossos cuidados, e assim vou me ocupando. Não tenho pressa pra nada, também não existe a mínima possibilidade de receber visitas, isto nos deixa confortáveis para fazer as atividades domésticas na hora que estivermos dispostos, sem muita cobrança, dizem que é bom estabelecer uma rotina, aqui não temos ordem para nada, agora mesmo, estou escrevendo o que seria bem improvável em outros tempos, mas daqui a pouco devo parar para me recolher. Pela manhã mandei recados amorosos para os meus filhos, incentivando-os a passarem bem o Domingo, ambos me responderam, também estão preocupados conosco, mas vai dar tudo certo, assim espero. Não tenho notícias do meu amigo (##), nada, espero que ele esteja bem. É uma pena a gente não se falar, mas a vida caminha não é mesmo ?! Ele há de estar bem, bem assistido, bem acompanhado, ah, deixa pra lá !
Bom, é isso ! Quis escrever, escrevi, agora vou dormir, amanhã estarei novamente por aqui, além do jardim este blog me ajuda muito... então tá, se alguém aí, de qualquer lugar do mundo parar pra ler, saiba que estamos todos no mesmo barco, e no momento o barco está ancorado, não vamos literalmente a lugar algum, desejo ter distraído um pouco você. Meus textos não são lá grandes coisas, mas tenho umas histórias muito boas, algumas engraçadas outras tristes, mas todas contam das minhas experiências como ser vivente neste mundão de meu Deus.
Bem, é isso ! se tiver interesse é só procurar.
Beijos virtuais, não virais e uma noite bem tranquila para todos nós.

sábado, 21 de março de 2020

"É Brega, mas e daí ?!"


"Se Eu Não Puder Te Esquecer"

Se eu não puder te esquecer
Mando dizer numa flor
Mando uma estrela avisar
Que o velho amor acordou.

Se não puder me esquecer
Basta dizer por aí
Quando você sussurrar
Meu coração vai ouvir.

Esquecer difícil demais
Ninguém é capaz
Se amou um pouquinho
Esquecer você nem pensar
E quando eu tentar
Que eu morra sozinho.


*composição : "Moacyr Franco".



sexta-feira, 20 de março de 2020

"Amenidades"

 Com tantas notícias ruins e tantos protocolos a seguir, hoje resolvi passar o tempo com amenidades....


Sabe o que é um "Flanges"?

Não ?! Eu também não até o pedreiro tentar me explicar.

Minha tarefa era ir até a loja de hidráulicos e comprar um "Flanges", o difícil era entender a palavra "Flanges" que saía da boca do pedreiro, pedi pra repetir umas quinhentas vezes, ouvi :"Frenha", "Frunga", "Fronha" e quanto mais ele tentava melhorar sua pronúncia mais confusa eu ficava com o quê supostamente deveria comprar na casa de hidráulicos, pra simplificar pedi então que me fizesse a descrição do objeto e qual propriamente a sua função, o que tornou tudo ainda mais difícil, porque o coitado já bastante irritado com a minha ignorância, definitivamente não conseguia ser mais exato nas suas explicações.

Sem mais delongas eu tinha uma tarefa a ser cumprida, assim parti para a casa de hidráulicos decidida a resolver o problema mesmo sem saber o que realmente iria comprar.

A loja de hidráulicos estava lotada de compradores : arquitetos, engenheiros e pedreiros, muitos pedreiros, aqueles homens rústicos que largam suas obras para atender os pedidos das madames, e lá estava eu, a madame em pessoa, sob os olhares desconfiados da "homarada", incomodada mas decidida a permanecer na fila até ser atendida.

Quando chegou a minha vez o vendedor muito solícito perguntou-me o que estava procurando, eu, com um sonoro :"Não sei, meu pedreiro me pediu que comprasse uma Fronha", e diga-se de passagem que "Fronha" era a palavra mais próxima que se fazia entender da boca do maldito pedreiro, todos sem exceção, caíram numa grande gargalhada me deixando roxa, não sei se de raiva ou de vergonha.

Virei a atração da loja, e naquele momento era uma questão de honra sair por cima da situação, ri junto com todos eles.

Motivados com as minhas vagas explicações todos estavam ali dispostos a me ajudar com perguntas que mal sabia responder, até que concluímos que o objeto era o tal do "Flanges"e mais risos.

Cheguei em casa com o "Flanges" na mão e rezando para que estivesse tudo certo, e estava, ufa ! não precisaria voltar no palco da minha vergonha para trocar, aí combinei com o pedreiro o seguinte; que ele próprio corresse atrás do que precisasse, afinal sou "madame" e vergonha igual aquela, eu hein ?! nunca mais !!


*Repete : Flanges, Flanges, Flanges, Flanges, Flanges.........Frenha, Frunha, Fronha....rsrsrssss








quarta-feira, 18 de março de 2020

"Diário 18 de março de 2020"

É ! a coisa está ficando cada vez mais feia por aqui.

Estou falando do corona vírus e o impacto que está causando na vida das pessoas.

Entendi que temos que nos enclausurar para a epidemia não se alastrar.

E a previsão diz que o pico da doença ocorrerá nos meses que seguirão.

É difícil mas temos que colaborar e esperar para ver como as coisas vão se encaminhar.

Estou cansada das notícias, as vezes nem as ouço, prefiro me distrair com outras coisas.

Ando cuidando do jardim.

Há alguns anos atrás plantamos uma grama chamada amendoim num pedacinho minúsculo de terra e a mesma se alastrou de um jeito quase que incontrolável, ela cresceu tanto que e o jardim ficou parecendo a mata atlântica.

Daí decidi fazer a limpeza do jardim arrancando a grama por partes, um metro quadrado por dia, e sabe aquele comichão que dá na gente quando comemos salgadinho, "impossível comer um só", foi o que aconteceu comigo e com a grama, estou adorando limpar o jardim.

Na maioria das vezes não uso luvas porque gosto do contato direto com a terra.

Quando acho uma minhoca levo para o Ti, meu passarinho, que fica feliz da vida com a prenda.

Trabalho braçal gera uma energia boa na gente, pegar na enxada, cavucar a terra, podar as plantinhas...todas essas atividades me faz suar bastante, até a dor nas costas me parece irrelevante, o prazer que ando sentindo é muito maior que qualquer dor.

Nunca imaginei que  entre a terra e eu pudesse haver tanta conexão !

Ando descobrindo coisas novas dentro de mim.

Como é bom desviar o foco dos pensamentos preocupantes e conseguir me zerar, desocupar a mente das coisas ruins e ocupá-la na paz do meu silêncio nas manhãs onde passo minhas horas a cuidar do jardim.





domingo, 15 de março de 2020

"Metal contra as Nuvens"

A morte do Renato Russo se deu cinco anos antes da morte do meu pai, e me lembro que naquela época, em 1996 eu chorei muito, parecia que alguém próximo da família havia falecido, lembro que na escola os alunos vinham me consolar, lembro também que passava horas e horas em casa ouvindo os meus CDs numa "fossa" desgraçada, mas sabe por que tudo isso ? Vou explicar... eu nunca fui fã, fanática por ninguém, nem por nenhum artista, eu apenas admiro a capacidade de alguns poucos que de alguma maneira consegue me tocar, e era assim com o Renato Russo, ele nas suas letras e composições traduzia a pessoa que eu era ou os sentimentos todos que me afligiam, então ao meu ver ele tinha muito de mim, Silvia, não sei se vocês conseguem entender.... só para exemplificar, tem uma letra que diz assim..."e nesses dias tão estranhos fica poeira se escondendo pelos cantos..." é uma cena em que me vejo menina, sentada no chão de cimento do nosso quintal, observando muito quieta e pensativa, aquele bolinho de poeira que se movimentava aleatoriamente com o vento anunciando que o tempo estava pra mudar, e ele tinha vida própria e brincava comigo, pra lá e pra cá, subia, descia, se escondia.... (desculpa, impossível não me emocionar)... outra letra muito significativa e marcante que traduzia muito de mim..... "quando quero desenho toda a calçada, acaba o giz tem tijolo de construção e eu rabisco o sol que a chuva apagou..." (uau, acho que hoje estou pegando pesado comigo)....

Exatamente hoje faz dezenove anos da morte estúpida do meu pai....há dezenove anos vivemos um dos dias mais tristes de toda nossa vida, uma dor que não se apaga, não se esquece, que lateja todo dia quinze de março, mas que depois adormece, como toda dor da perda que cumpre sua função....

Hoje é o dia da dor que renasce nas minhas relembranças...

..... logo depois do ocorrido, quando a minha cabeça ainda oca e com os meus pés pisando em nuvens, porque não havia chão nem terra pra pisar é que me veio assim por acaso a música "Metal contra as Nuvens" do Renato Russo... foram dez minutos de uma música na qual me entreguei por completo, me desfiz em lágrimas num choro compulsivo e muito doído....

Aquela música era o meu pai traduzido e tudo aquilo que ele viveu e passou, eu consegui enxergar ali o momento exato do tiro e tudo o que por ventura se passou em sua cabeça nos segundos que lhe restaram, do sopro de vida que ainda tinha.....

Em homenagem ao meu pai vou deixar aqui a letra da música que retratou a dor que senti e sinto até hoje. Ei-la :

*Metal Contra As Nuvens - Renato Russo

"Não sou escravo de ninguém
Ninguém senhor do meu domínio
Sei o que devo defender
Por valor eu tenho
E temo o que agora se desfaz

Viajamos sete léguas
Por entre abismos e florestas
Por Deus nunca me vi tão só
É a própria fé o que destrói
Estes são dias desleais

Sou metal, raio, relâmpago e trovão
Sou metal, eu sou o ouro em seu brasão
Sou metal, me sabe o sopro do dragão
Reconheço o meu pesar
Quando tudo é traição

O que venho encontrar
É a virtude em outras mãos
Mas minha terra é a terra que é minha
E sempre será minha terra
Tem a lua, tem estrelas e sempre terá

Quase acreditei na sua promessa
E o que vejo é fome e destruição
Perdi a minha sela e a minha espada
Perdi o meu castelo e minha princesa
Quase acreditei, quase acreditei

E, por honra se existir verdade
Existem os tolos e existe o ladrão
E há quem se alimente do que é roubo
Vou guardar o meu tesouro
Caso você esteja mentindo

Olha o sopro do dragão
É a verdade o que assombra
O descaso que condena
A estupidez o que destrói
Eu vejo tudo o que se foi
E o que não existe mais

Tenho os sentidos já dormentes
O corpo quer, a alma entende
Esta é a terra de ninguém
Sei que devo resistir
Eu tenho a espada em minhas mãos

Sou metal, raio, relâmpago e trovão
Sou metal, eu sou o ouro em seu brasão
Sou metal : me sabe o sopro do dragão
Não me entrego sem lutar
Tenho ainda coração

Não aprendi a me render
Que caia o inimigo então
Tudo passa, tudo passará
E nossa história não estará pelo avesso
Assim, sem final feliz

Teremos coisas bonitas pra contar
E até lá, vamos viver
Temos muito ainda por fazer
Não olhe pra trás
Apenas começamos
O mundo começa agora
Apenas começamos




***Só ouvindo pra sentir e saber.
A estrutura da música é perfeita, ela tem uma dramaticidade que pra mim é muito real...
- É pai, depois que você se foi, nosso mundo, forçosamente, recomeçou....


sexta-feira, 13 de março de 2020

"Covid-19"

Vamos falar do assunto do momento : Covid-19

Então né, o tal do vírus estrangeiro virou uma pandemia causando além dos seus sintomas uma histeria coletiva.

É grave ?

Siiimm, muito grave, assim como a dengue, a zica, a chikungunya, o tifo, a malária, o sarampo, entre outras.... o que mais temos por aqui são "bichinhos inofensivos" que matam, mas temos também outra doença tão grave quanto, a ignorância.

* Eita povinho difícil !

Se a pessoa tem medo do "covid-19" ela vai ficar atenta e tomar as devidas precauções, acho corretíssimo, mas o que está acontecendo é um pânico generalizado causado pela mídia, deixando as pessoas histéricas.

Por aqui só se fala nisso, nas casas, nas ruas, no rádio, na TV, como se não existisse outras doenças tão preocupantes quanto esta.

*Estamos tão bem servidos ! De doenças e de Médicos.

Quantas vezes chegamos ao consultório com sintomas de febre, dor no corpo, diarreia, vômito e ouvimos : "é uma virose", "é normal", "daqui uma semana passa".

E quantas vezes não voltamos pra casa na esperança de melhorarmos, com uma receitinha na mão e um diagnóstico tão inconclusivo ?!!!!

*- O que foi que você teve ?
 - Ah, o médico falou que foi "Só" uma "Virose".

Eu posso estar errada, mas um pouco da responsabilidade vem deste povo ultra mega super desenvolvidos, com as suas vidas quase perfeitas sem grandes sobressaltos, nem assaltos, com seus rios limpos e navegáveis que não sabem o que é falta de saneamento básico, falta de moradia, falta de estrutura, falta de educação, falta de tudo.... aí se veem diante de um vírus que começa a matar e pronto, alerta geral, vamos fechar nossas fronteiras e nos isolarmos do mundo até que tudo volte ao normal.

Eles estão preparados pra isso ?

Siiimm, nós é que não estamos, "a nossa histeria coletiva" vai além da ignorância, a certeza de que estamos literalmente "fudidos" com tamanho despreparo.

Daí acaba máscara descartável, álcool gel, e se, a primeira morte aqui no Brasil for confirmada, com certeza as prateleiras dos super mercados ficarão vazias.

De verdade não sei ao certo qual o futuro que nos aguarda, mas conscientemente vamos respirar fundo, raciocinar, não nos deixar levar pelo sensacionalismo.

Acho que devemos ter : Calma, Informação, Prevenção e Precaução na medida certa, sem histeria.


"O Ministério da Saúde Adverte : Caso os sintomas persistam, procure imediatamente um médico"

Com tão poucos leitos, chance vai ter quem adoecer primeiro !

Que bomba atômica que nada !

Irônico e triste, cacete !


quarta-feira, 11 de março de 2020

"Terceira Tentativa"

Nossa ! Tá tudo errado !

Fico um tempo sem escrever "perco a mão", verdade ! Tá difícil !

Dizer o que andei fazendo parece bobo, sem graça, sem propósito.

Descrever os detalhes me parece ridículo.

Resumir então, deixa tudo incompreensível.

Estou na terceira tentativa, e só insisto poque sou teimosa.

Poderia largar tudo com um grande "Foda-se" "Deixa pra outra hora", mas acontece que eu quero dizer, só preciso achar o jeito certo pra falar sem ficar me estendendo muito.

Se escrevo sobre o que andei fazendo estes dias me pergunto :"pra quem interessa ?" com certeza ninguém, pois é, se tenho a resposta então é melhor deixar pra lá não é mesmo ?!

Mas tem algo inusitado que gostaria de deixar registrado.

Ontem escrevi alguns versos na tentativa de fazer uma música.

Na hora não me senti ridícula de tão focada que estava.

Não partiu do nada.

Minha motivação veio de um desafio.

Duas estrofes não compunham uma música mas contavam uma história.

E eu muito atrevida cismei em desenvolver outros versos.

Me deram a liberdade para fazer o que eu quisesse.

Fiquei um bom tempo tentando dar uma estrutura legal com a proposta de transformar aqueles versos em música.

E assim fiz. Só não me pergunte como nem com que cara de pau entreguei aquele rascunho nas mãos do maestro.

Hoje acordei mais lúcida.

Não estou me sentindo ridícula, mas sei que posso ter errado muito e que minha tentativa pode ter sido um blefe.

Preciso escrever ao maestro e dizer-lhe que tenha a liberdade em desaprovar.

E desejo muito que ele não seja compelido a fazer nada com aquilo.

Amizade é amizade e sinceridade é sinceridade.

Não vou ficar chateada, juro !

Sei exatamente onde pega e o que falta, mas decididamente, Não tenho o Dom.

*Cada um é para aquilo que nasce.




sábado, 7 de março de 2020

Diário, 07 de março de 2020"

Olá !!!!

Este verão foi atípico, muito diferente mesmo, com cara de outono, dias nublados e chuvosos, chegou até a fazer frio.

Fevereiro choveu tanto e a chuva ininterrupta ocasionou inúmeras tragédias, assistir ao noticiário é de cortar o coração.

Por bem estamos em março vivendo um lindo sábado de sol. *

O sol energiza, dá ânimo, disposição, alegria, me sinto motivada a reagir e a prosseguir.

Nada de ficar me cobrando.

O lema é : "bora bora fazer o que dá!"

Então tá !

Uma boa xícara de café com leite para começar....

Bom diaaaa !!!!

Da série : Selfie pela Selfie, Why ????



"Continuação da Carta para Theo - Parte II"

...continuo com o nó na garganta...

Por que a gente se aborrece ? Por que eu me aborreço ?

Será que é só aborrecimento ? Será que este sentimento tem outro nome ?

Por que necessito em classificar ou nomear as coisas ?

Por que, por que e por que ????

Sabe Theo, no ano passado fiquei muito triste com a "doença" do meu marido.

Além de triste muito preocupada.

Sua saúde foi definhando a olhos vistos, emagreceu repentinamente, não queria comer, ficou sem energia para fazer as coisas que tanto gostava, como cuidar do jardim, da casa, fazer comida, vivia deitado no sofá, tinha febre em determinados horários, não queria conversar, escrever, nada, vivia dormindo.

Diante daquela situação por muito pouco não me deixei levar, houve dias em que chorei muito e quase entrei em depressão, mas eu reagi, assumi tudo sozinha, tomei decisões e fiz coisas que há muito tempo não fazia, por um lado me senti tão motivada, tomar as rédeas da minha vida, fazer o que precisava ser feito, poder escolher e decidir sozinha, era tudo novidade e a tristeza deu lugar a uma satisfação e um orgulho de mim, pode parecer egoísta e mesquinho da minha parte, mas eu estava feliz porque estava conseguindo ... Cuidei dele como se cuida de uma criança, na alimentação, nos remédios, nas massagens, sempre motivando-o a reagir, não queria vê-lo daquele jeito.
Era o mínimo que poderia estar fazendo, retribuindo o tanto que ele fez por mim na ocasião da minha queda. Foi uma forma de retribuir minha gratidão.
Achei muitas vezes que ele não fosse conseguir de tão grave que estava a situação, e felizmente aos poucos ele foi reagindo, e lentamente ele foi se reabilitando e saindo daquele estado de inércia.

E estava indo tudo bem, ele se recuperando e eu tomando as decisões, foi assim que planejei com a ajuda dos meus filhos nosso Natal e Ano Novo, até que no último dia do ano algo ruim aconteceu....

*esta carta continua. 

sexta-feira, 6 de março de 2020

"Carta para Theo - Parte II"

Oi Theo,

Você acha que estou melhor ?

Não, não estou.

Acho que acordei melancólica e triste, pra variar um pouquinho.

A minha cabeça não anda boa, isto reflete no meu corpo.

Prefiro que seja assim do que o contrário.

O contrário me assusta e eu tenho muito medo.

Sabe Theo, fiquei pensando muito estes dias em como lhe falar sobre as coisas que estão acontecendo e sobre como tudo isso influenciou para o meu estado de espírito.

Tenho medo que o medo se aposse de mim mais uma vez.

Já senti isto antes e é aterrorizador.

O medo me paralisa, fico perdida sem saber para onde ir.

Não sei por onde começo Theo, de verdade não sei.

Talvez se começasse pelo fim, pelo último acontecimento e fosse voltando no tempo.... sei lá ! Posso tentar...

Quando peguei meu celular e vi a imagem dela com o rottweiler não quis acreditar, mas sabia sem antes ninguém me falar do que se tratava, aquilo mexeu comigo, fiquei contrariada e aborrecida, me perguntando o que leva uma pessoa a querer um cachorro que com certeza vai crescer e dar muito trabalho para cuidar e custear os gastos ? Não sei a resposta, eu só sei que ele quis o cachorro e não há nada que o faça mudar de ideia. São as heranças que suas ex-mulheres lhe deixa, a primeira lhe deixou a Claire, uma vira-latinha de porte médio, hiperativa e bagunceira, a segunda lhe deixou dois gatos, Athena e Anakim, e agora esta, atual "namorida" com mais um gato e um rottweiler bebê cuja pata já é maior que minha mão.

Não vejo lógica nisso Theo e também não tenho o direito de opinar, o que disse foi que estão fazendo escolhas que os prendem, viajar por exemplo vai ser impossível, cuidar dos bichinhos é custoso e trabalhoso, enfim, pra tudo que dizia havia uma resposta e justificativa na ponta da língua, e eu não posso fazer nada além de assistir a tudo contrariada, mas é a vida deles não é mesmo ?! Agora por que isso tudo mexe tanto comigo ?

As mães sempre querem o melhor para os seus filhos mas o melhor no meu conceito pode não ser o melhor pra ele. Eu entendo isso, respeito, mas eu sofro, o que posso fazer para mudar esse meu jeito ?

Conheci o cachorro, e ele é lindo, já estou conformada com a situação, mas o ocorrido deixou sequelas dentro de mim, minha saúde não tá legal e minha cabeça menos ainda, ah Theo ! preciso reagir e estou me deixando levar....


*esta carta continua.



quarta-feira, 4 de março de 2020

"Uma História que não é Minha"

Queria muito contar uma história.

Uma história que não é minha.

Era uma vez um casal que se conheceram e se casaram na década de 50.

João e Luzia.

João era meio irmão de meu pai, tiveram algum contato na infância mas a vinda da família para São Paulo os separou, João continuou vivendo em Minas Gerais onde conheceu Luzia e se casou.

Luzia era uma jovem negra, muito bonita e muito pobre e se apaixonou por João.

Tiveram quatro filhos mestiços, meus primos.

Júlio Cesar, Maria Elisa, Maria Cristina e a raspinha do tacho, Marco Antonio.

Os vi pela primeira vez ainda pequena quando nossa família se reencontrou por obra do acaso.

Naquela época, década de 60, meu pai viajava de vez em quando com o Circo para se apresentar como lutador de "Luta Livre", Telecatch e foi através de um anúncio que Luzia o reconheceu e reaproximou os irmãos.

Foi assim que conheci a "Família Coelho" e muitas de suas histórias.

Uma delas faz referência aos filhos do casal, um episódio tão triste que marcou a minha memória de menina.

Eles viveram um tempo no interiorzão de Minas Gerais, no meio do mato literalmente, onde não havia água encanada e Luzia tinha que se deslocar até o rio próximo a casa para lavar as roupas da família nas pedras e água corrente.

Deu-se que a filha mais nova, apelidada de "Neguinha" dormia no seu bercinho humilde com colchãozinho de palha e na ausência da mãe, Júlio Cesar muito criança também, resolveu brincar com fósforos embaixo do berço da menina. Daí vocês já podem imaginar o que aconteceu, o berço pegou fogo, mas felizmente Luzia chegou a tempo para contê-lo e salvar a filha que teve boa parte de um dos braços queimado.

História triste mas o mais triste mesmo se deu depois, Luzia culpou o filho pelo ocorrido e nunca mais o perdoou.

Quando nos tornamos adolescentes fomos convidados eu e meu irmão a passar as férias em Minas com a família, nessa altura eles já haviam progredido na vida, moravam numa casa grande e espaçosa em Belo Horizonte e aproveitamos a oportunidade para conhecê-los melhor.

Júlio Cesar era muito calado, quase não participava das nossas conversas, estava sempre de lado observando, era um jovem moreno muito bonito mas muito sério, seu semblante era triste.

Maria Elisa tinha pose, magra, esguia, com uma beleza incomum, loira, pele bem clara, olhos claros de um verde quase transparente, mas havia duas coisas que a incomodavam muito, o nariz abatatado de negro e o cabelo loirinho pixaim.

Neguinha era uma perfeição de tão bonita, alta, pele bronzeada, feições delicadas, cabelos negros, volumosos, sedosos e lisos, mas tinha o defeito no braço, já havia feito várias cirurgias reparadoras mas o complexo persistiu, era tratada diferente dos outros filhos por isso era muito mimada e dengosa.

O caçula apelidado de Pepeto era o mais desencanado de todos, um menino alegre e feliz, parecia a réplica diminutiva do tio João de tão iguais.

Durante nossa estadia houve um episódio marcante.

Estávamos todos reunidos no quarto das meninas quando surgiu uma conversa boba sobre racismo.

Meu irmão caiu na besteira de dizer que meu pai era racista, e o meu pai era mesmo racista, não sei em que grau, mas era, mesmo sendo neto de escravo alforriado com a "Lei do Ventre Livre".

Foi quando Júlio até então aquela pessoa calada e sombria resolveu se manifestar dizendo que também era racista.

O que ninguém esperava era que tia Luzia estava próxima ouvindo nossa conversa.

Daí o caldo entornou, houve uma briga dos diabos.

Tia Luzia dizia que Júlio não deveria se pronunciar daquele jeito porque também era negro e aos berros totalmente transtornado ele bradava que ele podia ser preto mas que odiava os negros.

Aquela cena foi horrível, Júlio Cesar saiu bufando, batendo as portas, gritando a frase "odeio preto!" repetidas vezes, enquanto a tia caía aos prantos desiludida.

Nunca vou me esquecer !

Era uma família cheia de preconceitos, culpas e traumas.

Tia luzia quando vinha nos visitar nunca era objetiva, tinha um jeito mineiro de falar cantado, sempre sugerindo a maldade entre os dentes, era uma pessoa infeliz e deixava transparecer suas mágoas, sua tristeza, enfim...

Crescemos, nos vimos adultos e cada qual seguiu sua vida.

Júlio Cesar nunca se casou, caiu no vício da bebida e muito novo ainda foi encontrado morto numa sarjeta qualquer de Belo Horizonte.

Elisa também não se casou, se formou em enfermagem, morou em outros países, afinou o nariz e alisou os cabelos.

Neguinha se casou, teve dois filhos e uma vida bem sucedida, morou muitos anos na Alemanha, hoje vive no Rio de Janeiro.

Pepeto escapou de todas, vive no sul, casou, separou teve filhos, e aparentemente vive de bem com a vida.

Tia Luzia faleceu há alguns anos.

Eu e minha mãe chegamos a visitá-los um pouco antes dela ficar doente.

A casa era a mesma e já não era tão bonita e tão grande, acho que cresci e a casa diminuiu.

Moravam apenas os dois e só pra variar um pouquinho, outro episódio me chamou a atenção.

Entramos no quarto do casal onde tio João estava sentado assistindo televisão, e entre os cumprimentos e assuntos, tia Luzia pousou a mão sobre o ombro do marido, foi quando ele nos disse :"-Estão vendo ? Havia anos ela não encostava a mão em mim".

Aquelas palavras nos deixou sem graça, mas além de sem graça fiquei sim foi muito triste.

As mágoas e os ressentimentos os afastaram, viveram na mesma casa mas eram dois estranhos infelizes.

Alguns anos após a morte de tia Luzia, tio João também veio a falecer.

Fiquei triste com a notícia, tio João lembrava muito meu pai no jeito de falar, fiquei com a sensação que o último elo da família havia partido para sempre, não há mais ninguém, entende ?

Aí eu reflito e penso... essa história realmente não é minha, mas há episódios em que me assisto.

Tão triste, não é ?!








terça-feira, 3 de março de 2020

"Diário 03 de março de 2020"

Cara, de verdade não tô legal... e nem sei o que é que eu tenho, nãos sei se são as besteirolas que passam pela minha cabeça, esses medos tolos, essa preocupação excessiva com tudo, não sei.

Estou tentando fazer as coisas, tentando não, estou fazendo, nem sei se estou me obrigando porque tem coisas que gosto muito de fazer, a hidroginástica por exemplo, é bom estar lá, me concentro ao máximo para fazer tudo certinho, é bom, não é tão cansativo porque a água sempre me relaxou, amo água tanto no exercício quanto no lazer.

Também estive na aula de canto, é outra coisa que me distrai muito, aquele tempo que é um pouco mais de uma hora, aproveito para me concentrar e desviar os pensamentos ruins, converso bastante com o maestro, as vezes até desviamos do assunto da aula, mais o ouço do que falo, tento expor minha opinião mas sabe como é, cada um é cada um e ninguém muda com conselhos alheios, mas eu também falo, pouco mas falo. Ontem antes de ir embora ele ficou desfiando alguns elogios sobre meu progresso, disse que algumas pessoas "do meio" elogiaram minha voz, e falou, falou, falou... e eu ouço sabe, mas me incomodo, sei que não sou tudo isso, que tenho limitações, mas reconheço também que fiz sim algum progresso, mas... sei lá, não precisava falar entende ? Talvez o objetivo dele seja me incentivar a não desistir das aulas.

Marcamos de repor a aula da semana passada hoje á tarde, disse que quer me ouvir cantando no microfone, já fiz isto antes, fico inibida, constrangida, o microfone me trava, tenho vergonha de desafinar, de não corresponder, ah sei lá... vamos encarar não é mesmo ?

*não pense que estou legal fisicamente, não, não estou, vou tentar suportar e superar esta dor.

Que chato isto !


segunda-feira, 2 de março de 2020

"Procurando Livro pra Ler"

Lembra que estava procurando um livro pra ler ?

Pensei na biografia da Rita Lee-"Uma auto biografia" e pesquisei também o livro da Fernanda Montenegro-"Prólogo, Ato, Epílogo-Monólogo" não tenho nenhum dos dois, teria que comprar, o da Rita Lee achei na Internet para baixar, li espaçadamente alguns trechos e cara, de verdade não tem graça ler livro nos eBooks da vida, nossa, nunca vi tanta frieza.

Me ocorreu agora comparar o livro com um namorado :
Tem que ser companheiro, te ouvir, ouvi-lo também, tocá-lo, beijá-lo, fazer carinho, dormir junto... ah sei lá, um livro tem que ser quente, tem que ter contato, estas coisas... precisa ter química.

Silvia e suas divagações....(rsrsss)

Voltando ao prumo, pesquisei no meu digníssimo PC, livros interessantes para ler, e mais de uma vez me sugeriram o livro "Em busca do Tempo Perdido"-Marcel Proust, mas não me deixei convencer, mesmo porque parece ser vários volumes, não entendi direito, bem, continuando, estou com um livro na cabeceira da cama que estava lá meio esquecido aí comecei a ler, chama-se "A terra inteira e o céu infinito" de Ruth Ozeki, e não é que logo nas primeiras páginas a personagem menciona o livro do Proust "À la recherche du temps perdu", não é incrível ?!!

Agucei a curiosidade....

Vou procurar saber, se é pra minha cabeça, só Deus sabe !

PS. Tem livros que é só pra cabeção, a minha cabeça é cabecinha, serve não !
Acordei tentando achar um sentido... e não encontro sentido algum.

Me pegunto :

Por quê e Pra quê ?

De verdade, hoje estou sem resposta.

As vezes me justifico muito bem.

Outras vezes melhor mesmo é emudecer.


*Desculpa Theo, outra hora quando achar mais sentido a gente conversa.

domingo, 1 de março de 2020

"Carta para Theo-Parte I"

Bom dia Theo !

Aqui estou como o prometido, disse-lhe que esperaria o momento certo onde não me deixasse levar pela euforia momentânea muito menos pelo desanimo depressivo, também não posso te afirmar que estou no meio termo, mesmo porque não existe um medidor que me diga : "você está no ponto, vá e escreva". Estou apenas usando a minha intuição aliada a vontade enorme de lhe dizer sobre as coisas pelas quais passei, e foram muitas mudanças, interiores e exteriores, é claro que os fatos são mais fáceis e mais simples de serem narrados, já o que se passou comigo aqui dentro relacionados aos meus sentimentos, estes sim, são mais difíceis de dizer, de me abrir totalmente e falar, e foram tantas coisas sabe ? que nem sei se vou conseguir dizê-lo de uma única vez, portanto dividi esta carta em duas partes para não me estender demais e acabar te aborrecendo.

Por onde começo ?

Bem, primeiro precisaria saber onde paramos, as vezes sou repetitiva e odeio ser, então vejamos... não vou fazer uma ordem cronológica não, por isso vou comentar contigo os fatos mais recentes, estes com certeza ainda não sabes.

Em setembro vou para Portugal ou pelo menos espero ir se tudo der certo, sempre ando com caraminholas na cabeça achando que algo pode dar errado, é o meu lado pessimista sabe ? aquele que me julga não merecedora das coisas boas.

Vamos eu e minha mãe, excluí meu marido, e a exclusão se deu de uma forma não muito legal.

Estávamos em Águas de Lindóia conversando com os compadres e fazendo planos de nos encontrarmos no Porto, foi quando ele percebeu que estava fora dos meus planos, ele se sentiu ofendido e magoado e naquele momento não quis estender o assunto para não piorar a situação, deixei para conversarmos em casa num momento mais propício.

Não sei se fui convincente na minha explicação mas querendo ou não já tomei a minha decisão.

Minha prioridade é levar minha mãe que acabou de fazer oitenta anos para conhecer as terras de onde seus pais nasceram na região norte de Portugal, Trás-os-Montes e Alto Douro.

Me comprometi e quero muito poder realizar este sonho, afinal qual outra oportunidade teríamos ?

Sei também que não será fácil porque ambas temos nossas limitações de locomoção mas juntas vamos nos virar da melhor forma possível.

Nosso relacionamento é bom, as vezes perco um pouco a paciência pelo fato dela não ouvir direito, aí acabo falando alto demais parecendo que estou alterada, e o pior é que muitas vezes estou de fato sem paciência alguma, mas sabemos contornar.

Pensa Theo se não estou certa em ter excluído meu marido, ele tem lá os seus vícios e não abre mão de nenhum deles, temos os pets cuja preocupação chega a ser exagerada,  e outros fatores que pesam na mesma medida, o que quero dizer é que ele não se empolga nem se envolve com as novidades, tudo ele já sabe, já viu, não faz diferença, é caro demais e por aí vai, não há alegria entende ?

Sinto em dizer mas a verdade é que não quero carregar este peso e tanta responsabilidade, seria uma viagem infernal, caso tivesse que ficar entre os cuidados de minha mãe e meu marido, como diz o provérbio "entre a cruz e a caldeirinha" e decididamente Não, não dá, preciso preservar minha saúde física e minha sanidade, quero uma viagem leve, alegre e feliz, ir para onde quiser e gastar no que tenho vontade.

Isto está resolvido.

Bom decidir e resolver sem peso na consciência não é Theo?

Há outra coisa que também resolvi.

Farei outra cirurgia para tirar a placa e os nove pinos da perna.

Conversei longamente com o médico e expliquei-lhe minha situação, senti que não é da vontade dele fazer a cirurgia, tentou me convencer do contrário, que o corte vai ser grande que anestesia é geral e blá blá blí blá blá blá... foi quando lhe perguntei :
 "Qual a chance de ficar pior que estou ?"
 Resposta :"Nenhuma".
 Então pensei, ponderei e decidi arriscar.

Em julho completará dois anos da minha queda, e de verdade, não consigo fazer as coisas como antes fazia, sinto dores e o "créque créque" na perna me limita, acredito que seja a placa, e vou acreditar mais ainda que sem ela tudo pode melhorar consideravelmente.

Estou fazendo os exames e quando retornar ao médico com os resultados vamos marcar esta cirurgia.

Até setembro preciso estar recuperada.

Vou estar.

Nossa Theo, estou vendo que a carta está enorme e ainda tenho tanto pra contar !

Vamos continuar amanhã, pode ser ?!

Então Theo, até breve !