quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Retrospectiva 2023

 Todo final de ano algo ruim acontece para abalar a minha suposta e despretensiosa "alegria" e este ano não seria diferente, não para mim. Já deveria estar acostumada mas o fato de esquecer as coisas ruins que me acontecem me deixa sempre desarmada, fico vulnerável, presa fácil, por isso elas se repetem, contudo não quero começar minha retrospectiva pelo final, o que quero dizer é, mesmo que tenha acontecido algo ruim em 2022 já não me lembro mais e vai ser assim ano que vem com o ocorrido deste ano, talvez esta falta de memória seja para me proteger de ser uma pessoa triste e amarga com a vida, e de verdade a vida não tem culpa de nada, devemos sim é responsabilizar nossas escolhas, por isso não acredito em destino e sim em consequência.

Este ano de 2023 procurei fazer boas escolhas para o meu cotidiano sem me cobrar demais. O exercício físico foi uma delas, acordar cedo foi uma opção, estar na academia antes das sete da manhã foi maravilhoso, a natação me ajudou muito a preservar a minha sanidade, com a cabeça mergulhada na piscina não penso nos meus problemas físicos muito menos nos existenciais, quanto a musculação deixei a desejar mas posso mudar isto ano que vem, aliás eu posso mudar o que eu quiser na minha vida, basta querer e fazer...

Me dediquei a costura e deixei de lado os livros, nada li, e dizer isso me dá grande tristeza...todo ano que começa tenho por objetivo ler um livro por mês e, em 2023 a leitura ficou em último plano ou em plano nenhum...para corrigir isto e até por questão de honra, esta última semana do ano, estou lendo o único livro de 2023 : "Homens imprudentemente poéticos" de Valter Hugo Mãe, e tinha que ser ele, pela engenhosidade e principalmente pelo tanto de sentimento que Valter coloca em suas obras. Sim estou lendo meu único livro deste ano e estou me sentindo minimamente realizada com o feito.

A minha saúde me pregou algumas peças...por duas vezes fiquei bem mal, a primeira em março e a segunda em outubro...não consigo avaliar o quanto do meu emocional interfere na minha saúde mental e como dizem por aí "quando a cabeça não funciona o corpo padece". 

Analisando agora com calma e distância acredito que meu padecimento se deu por conta da viagem à Portugal. No começo do ano estava muito insegura e amedrontada com o desconhecido e viajar significava abandonar o meu cotidiano, sou avessa as mudanças e a ansiosidade causou grandes danos no meu corpo. A palavra que melhor define estes meses que antecederam a viagem foi "MEDO". Não medo de avião, medo de não me adaptar, medo de algo falhar, medo de passar mal num país distante, medo do medo, daqueles que paralisa a gente...e a proximidade da viagem aumentou a minha ansiedade e triplicou os meus medos até que lá cheguei.

Como posso descrever o que aconteceu comigo ?! Difícil encontrar as palavras... todas as experiências foram surpreendentes conheci lugares maravilhosos, estive nas terras dos meus avós, experimentei comidas deliciosas em restaurantes únicos, a recepção do meu irmão e minha cunhada foi tão acolhedora e todos estes acontecimentos mexeram muito com o meu estado de espírito com o meu "eu" interior, tentando resumir em uma única palavra fui "Livre", livre pra ser feliz, liberta das responsabilidades alheias consegui focar em mim, nos meus desejos...fui leve, fui solta assim como o vento.

Quando voltei ao Brasil já não era a mesma; uma tristeza profunda me abateu, passei dias sem dizer uma única palavra, deitada na rede olhava para o céu e as lágrimas corriam pelo meu rosto e pra justificar tamanha tristeza adoeci novamente, achei que nada mais valia à pena, pensei que fosse morrer... fui cuidar de mim, fazer exames, me preparei para me despedir. E os dias foram passando e a minha rotina foi tomando forma novamente. Antes de viajar achei realmente que minha rotina era ótima até conhecer uma rotina diferente, é meus amigos, existem rotinas tão melhores por aí...mas rotina é rotina, sempre se perde  na mesmice, descobri que viajar é bom e saudável e quero muito isto pra mim daqui pra diante, claro que vou ter ansiedade, medo e insegurança mas agora tenho certeza que valerá à pena, ou não, não importa, o importante é me sentir viva, ter aquele gostinho de ser vento novamente.

Dia primeiro de dezembro seria a minha cirurgia, deixei tudo agendado antes da viagem, operar era coisa certa e resolvida na minha cabeça até voltar da viagem... outros problemas surgiram; muito mais relevantes que tirar a placa e os nove parafusos da perna, como dizem por aqui "amarelei"...todo aquele trauma pós acidente veio à tona...operar, ficar internada, voltar pra casa e depender de alguém que lhe ajude até para escovar os dentes, fazer intermináveis sessões de fisioterapia, tudo isso me arrepiou a alma e eu disse "Não" não quero reviver momentos tão dolorosos, conversei com o médico, me justifiquei e ele não só entendeu como me apoiou. Se fiz a escolha certa não sei mas era o que eu queria naquele momento e como a vida é uma escolha, escolhi.

"Ou isto ou aquilo"

Meu coração. Meu coração pertence a um amor antigo, tão puro, inabalável, imaculado, doce, perfeito, perfeição que só existe pela distância e que perdura justamente pelo fato de não ter se concretizado. Por ele e pra ele são os meus pensamentos, desejos de que seja feliz, que encontre alguém que, assim como eu, o ame de verdade e que esse amor, diferente do meu, seja possível e real com todas as virtudes e defeitos particulares de cada um.

Meu coração é doente e carente. Careço de amor, de atenção, de cuidado, de companheirismo...é tão difícil admitir esta carência, contudo me deu um alívio enorme admitir e verbalizar, deixar claro meus sentimentos...pior que estar só é sentir-se só mesmo acompanhado. Este ano pude, com muita dor, vivenciar esta solidão aterrorizante...chorei e me vi dentro do vazio...o avanço da idade não nos ajuda muito neste sentido, estamos cada vez mais sozinhos, e a simples presença física do outro já não nos conforta apenas nos assegura que se algo errado acontecer haverá uma alma piedosa que irá nos socorrer, se não por amor, por compaixão.

E assim termino o ano de 2023 um tanto infeliz mas agradecida por chegar até aqui, buscando as escolhas plausíveis para não haver arrependimentos, tentando ser verdadeira com meus sentimentos por mais dolorosos que sejam, tentando encarar a realidade como ela é de fato, sem grandes emoções ou rodeios, afinal tudo está certo, tudo está como de fato se apresenta, a vida é o que é.

"Feliz" 2024 para todos nós !