sexta-feira, 27 de julho de 2018

"Sentido, Cheiro, Saudade"

O olfato é um sentido que a gente não controla, ele chega de repente, na maioria das vezes sem a gente esperar, invade as narinas percorre rapidamente o cérebro e nos teletransporta, em questão de segundos as reminiscências estão ali tão vivas na memória tornando-as quase palpáveis e reais.

Acontece tanto isso comigo.

E quando acontece me vem uma saudade imensa, mas não é uma saudade de dor ou de pesar, é uma saudade feliz de me levar onde estive um dia.

É um sentimento tão rápido e tão intenso que a vontade que dá é de perseguir o cheiro para guardá-lo pra sempre dentro de mim.

E o cheiro vem de enes maneiras diferentes, e todos muito prazerosos.

Cheiro de gente...

Meu pai cheirava a sabonete "phebo" aquele pretinho com perfume de rosas, saía do banho com a barba bem feita e o cheiro dele se misturava com o cheiro da manhã junto com os raios de sol que entravam pela janela.

 A minha vó paterna cheirava "talco de bebê" perfume que exalava pelo corpo e fixava nos lençóis brancos antes de dormir.

 O menino que eu gostava cheirava desodorante "avanço" quando ele passava por mim de cacharrel preta a minha vontade era de grudar nele feito o perfume pra nunca mais sair.

 A  vó materna cheirava "sardinha"... porque ela limpava sardinha toda semana pra fritar e comer, minha vó era portuguesa, sardinha e bacalhau não podia faltar na mesa.

O bom de sentir o cheiro é que mesmo que ele não seja bom o bom de sentir o cheiro é relembrar daqueles que marcaram a nossa história é estar com eles novamente.

E o cheiro de comida então ?!!!

Bife acebolado, "aquele" contra filé com bastante cebola... fecho os olhos, vejo os trejeitos de meu pai degustando o prato.... comia com tanto prazer que até hoje só de lembrar dá vontade de comer... por vontade  maior de lembrar...

Arroz parboilizado com tomate da bivovó, servido na panela gigante para os netos famintos que chegavam da praia mortos de fome porque água salgada abre o apetite...era o que os adultos diziam e o que a gente gostava de ouvir com a desculpa pra repetir... e na ponta da mesa tinha o cheiro do vô, que era o cheiro do vinho "sangue de boi" garrafão de treliça que lhe serviam um copo no almoço e outro na janta e que deixava meu vô falante e feliz.

Os bolinhos com sementinhas de erva-doce batizados como "rosquinhas da vó Felicidade" que ela mesmo fazia e que a mãe  repetidas vezes nos fez depois que ela se foi, adoçando a vida da gente com açucar  e canela e sempre trazendo a lembrança da vó a cada mordida.

Cheiros do lugar...

Cheiro de mar... de marisia... do nariz grudado na esteira tomando banho de sol...

Cheiro do mato com orvalho misturado com cheiro de maresia nas manhãs de verão.... da areia molhada com água da chuva da noite anterior...

Cheiro da casa limpa... da cera poliflor... amarela ou incolor...

Cheiro do momento....

Cheiro do cimento quente quando lavávamos o quintal...

Cheiro do livro novo...

Cheiro do café passado na hora...

Cheiro da pipoca depois da missa...

Cheiro da mala de couro com material escolar...

Ah! os cheiros !!! bendito nariz que me aflora os sentidos, os cheiros, as pessoas, os momentos e as saudades !

Ah! como é bom sentir ! Como é bom reviver !!! Hoje quero ficar aqui sentindo esse cheiro gostoso .... abusando do meu sentido ... só mais um pouquinho... mais outro tanto... mais, mais e mais...

.... buscando no cheiro a saudade pra ser um pouco mais feliz...










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