sábado, 20 de julho de 2024

"Jazigo Eterno"

"Jazigo Eterno"

"Se" eu fosse enterrada num jazigo pediria para escrever na minha lápide :

 "Eu Sou Você Amanhã" 

Quer verdade mais verdadeira que esta ?!

 Verdadeira e Certeira !

Digo "se" porque já deixei claro que é de minha vontade ser cremada mas, como a lei nem sempre age de acordo com nossas vontades, vamos aguardar as circunstâncias para saber o que será de mim.. ainda mais que morto não opina.. assunto fúnebre não é mesmo ? Mas o que fazer se a morte faz parte da vida ?!

Que introdução funesta ! Tudo isso pra dizer que esta semana estivemos no cemitério para resolvermos o problema dos mortos e dos vivos.

Explicando a situação :

Temos um jazigo no cemitério Quarta Parada que foi adquirido pelo meu bisavô em meados do século passado, pois bem, a maioria dos cemitérios da cidade de São Paulo foram terceirizados por uma empresa denominada "Consolare", acontece que no começo do ano foi nos dado um prazo, relativamente curto, para fazer o recadastramento, caso contrário perderíamos a posse do mesmo. Bem, os herdeiros diretos do jazigo são seis pessoas ao todo, incluindo minha mãe, a mais velha de todos, e, apenas ela e sua prima estão a par da situação atual mas, o que aconteceu foi o seguinte; na hora "H" precisavam de um nome que se responsabilizasse pelo jazigo, desculpa dali, desculpa daqui sobrou pra quem ?! Para esta reles mortal que vos fala, sim, até aí tudo bem, dei o meu nome porque seria um elo de informação entre os herdeiros diretos, tão somente isso, mas qual ?!?! No começo do mês recebi uma linda cartinha da "Consolare", nela anexado um boleto, num valor nada razoável para o meu bolso, determinando que eu pagasse uma taxa anual de manutenção, que massada !!!! Esta semana estivemos lá novamente para resolver este impasse : se desfazer ou não do jazigo ?

Olha só como são as coisas....

Temos um Jazigo ? Não, não temos, o que temos é tão somente uma concessão, pois bem, se você quiser ter um jazigo, digo, uma concessão terá que desembolsar uma quantia razoável por ele, isso dependendo do tamanho do mesmo, o nosso, por exemplo, é composto de uma capela com oito urnas, quatro de cada lado mas duas foram soterradas com o tempo, nelas jaz meus bisavós, e lá permanecerão, os donos da campa, daí o nome de "jazigo perpétuo". Se não quisermos mais o jazigo temos que devolvê-lo a "Consolare" e todos que ali estão, seriam encaminhados ao ossário coletivo. A avaliação do jazigo varia de acordo com o tamanho do terreno e aos herdeiros caberia 30% apenas do valor da terra, ou seja, uma ninharia. Eis a questão : "Ficar ou não com o jazigo ?"

Situação legal do jazigo :

Das seis gavetas restantes, quatro estão ocupadas e duas abrigam caixas com os ossos dos corpos daqueles que foram exumados, portanto, Não há Vagas ! Nenhuma caixa se encontra identificada, o que dificulta requisitá-la caso se queira cremar os ossos de algum ente querido e dar-lhe um outro destino qualquer. Fora isso, ao requisitarmos a relação de todos os nomes e exumações desde a sua inauguração, descobrimos que as informações estão incompletas e desatualizadas e a culpa da incompetência, só pra variar um pouco,  recaída a administração anterior. Questionamos as caixas com os ossos  que estão sem identificações e a desculpa foi "se apagaram com o tempo", ou seja, não dá pra saber quem é quem dentro daquelas caixas.

Situação atual do jazigo :

É de cortar o coração. A capela foi invadida pelos bandidos e totalmente depredada, as janelinhas de ferro nas laterais ficaram tão somente os buracos, alguns vidros da porta foram quebrados na intenção de levá-la contudo, não o fizeram, todas as fotos e inscrições em bronze foram arrancadas, permaneceu o altar, dois vasos de louça e a imagem de um metro da santa, toda desbotada e carcomida pela ação do tempo e com uma das mãos quebradas. Triste.

O que fazer então ?!

Cogitamos a possibilidade de reformarmos o jazigo. Há duas empresas cadastradas para fazer o serviço e o orçamento que nos passaram condiz com o valor aproximado com os 30% que nos ofereceram caso abríssemos mão do jazigo. Ó dúvida cruel : Fazer ou não fazer a reforma da campa ?!

Minha modesta opinião :

Eu preservaria o jazigo. Tanto pela questão material (financeira) como pela questão sentimental, embora eu não tenha religião e nem pretensão nenhuma em ir parar numa daquelas gavetas, eu ficaria com ele em memória dos entes queridos que lá estão (mesmo sem identificação) deixemo-los lá e em paz.

O que precisaria ser feito então ?!

Desocupar as gavetas, há pessoas que não tem parentesco direto com a família e as que tem deveriam ser exumadas e cremados os ossos, assim liberaríamos espaço para aquela hora tão dolorosa de se precisar enterrar alguém.

Assunto desagradável que tem que ser resolvido !

Mas e você, o que faria ?!




  



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